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A derrota como maior professora

Greatest teacher, failure is.

Mestre Yoda

Todos os leitores com certeza terão opiniões diferentes sobre Star Wars Os Últimos jedi, contudo, essa frase é incrivelmente emblemática e apenas o maior Jedi de todos teria a sabedoria em dize-la. Quero usar esta frase para debater hoje sobre o jogo Sekiro Shadows Die Twice e a polêmica gerada em torno dos jogos da desenvolvedora From Software: seus jogos deveriam ter um “modo fácil”?

Para os que não conhecem, a From Software é responsável pelas franquias Demons’ Souls, a trilogia Dark Souls, Bloodborne e, mais recentemente, Sekiro. A desenvolvedora tem uma política de desenvolvimento que privilegia a dificuldade de seus jogos, onde o jogador deve ter movimentos precisos, saber administrar seus recursos e continuar tentando até conseguir sair vitorioso. O último jogo já citado, não é diferente. Dark Souls e Demons’ Souls tinham um foco na paciência, defesa e contra-ataque, Bloodborne exigia agressividade e Sekiro exige afiadíssimos reflexos. É claro que isso é uma forma simplificada de descrever esses jogos, contudo, meu objetivo hoje não é descreve-los.

Como mencionei antes, a cultura prevalecente nos jogos mais recentes da From Software é a de desafio e recompensa. Em várias entrevistas concedidas, o diretor da empresa, Hidetaka Miyazaki, afirma exaustivamente que não comprometerá sua visão de desenvolvimento para agradar e convidar mais jogadores aos universos que cria. E essa atitude, para uma indústria que frequentemente tem medo de arriscar e nos entrega jogos altamente abrangentes para garantir milhões de vendas, é, no mínimo, corajosa. As pessoas que defendem o “Modo Fácil” no legado da From Software alegam a busca por acessibilidade, que os jogos devem ser para todos. Não os vejo falando disso em jogos de terror, jogos exclusivos de plataforma ou do debate de criar controles diferentes para pessoas com deficiência. Por outro lado, grande parte das pessoas que defendem a cultura de dificuldade da empresa nipônica tem um viés excludente. Frases como “Git Gud” ou a tentativa de ofender e menosprezar as pessoas usando a palavra “casual” são frequentes, não sabendo argumentar sobre a real necessidade desta experiência.

Os jogos não são para todos. Vivemos em um sistema onde nem todos podem pagar por jogos e, justamente por isso, a pirataria ainda existe em peso. Deveriam ser para todos? Sim, mas a realidade é outra. Em questão de gênero dos jogos, existem uma avassaladora diversidade deles, contudo, nem todos são para todos. Eu não gosto de simuladores, muitos não gostam de jogos de luta, outros não suportam passar horas na tela de criação de um RPG e tem crises de ansiedade com mundos abertos, outros se limitam aos famigerados “Fifa e GTA” e ainda tem aqueles que preferem os jogos simples de celular ou os jogos antigos, de Super Nintendo ou do primeiro Playstation. Enfim, a indústria é muito vasta para argumentar que um jogo difícil deveria ter um modo fácil para que todos possam jogar. Mesmo obedecendo a esse pedido, nem todos vão se interessar.

Olhando de uma forma artística, esse é o jeito que Miyazaki concebeu seu jogo. A visão dele é proporcionar aos jogadores uma sensação de recompensa, de vitória. Depois de tantas mortes, consegui aprender os movimentos deste inimigo e o derrotei, isso emula perfeitamente aspectos reais da nossa vida cotidiana. Todos nós passamos por situações que exigiram tudo que tínhamos e, após a conquista da vitória, após a solução do problema, nos sentimos aliviados e confiantes, além disso, crescemos como pessoa. Esse “ritual” de morrer, tentar de novo, morrer, tentar de novo, conseguir e aprender é altamente efetivo para o cérebro. Convido ao leitor a assistir as dezenas de vídeos que capturam a reação de jogadores quando passam de um chefe ou cenário muito desafiador dentro dos jogos que já citei, qualquer um deles, para evidenciar como essa filosofia da From Software tem seu lugar dentro da indústria;

Para finalizar, este assunto é passível de discussão em relação ao politicamente correto. Não sou inteiramente contra, mas tenho grandes críticas a esse padrão. Hoje vivemos em uma sociedade que não quer se frustrar, que usa dos excelentes discursos de inclusão para esconder suas falhas e incapacidades. Aceitar que jogos difíceis não são para você nunca será um demérito, nunca será motivo de vergonha. O mundo é diversificado demais, a subjetividade é maravilhosa. Temos infinitas possibilidades, infinitos gostos, infinitas singularidades. É por isso que, repito, a melhor professora sempre será a derrota. A derrota é um coisa ruim apenas para aqueles que não estão dispostos a aprender com ela. Sekiro é difícil, vai exigir dedicação, paciência, determinação e uma afiadíssima coordenação motora. Se você gosta desse tipo de jogo exigente, eu altamente te recomendo. Se não é pra você, tudo bem, todos te respeitamos.

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