Em Quem tem medo do Feminismo Negro?, Djamila Ribeiro selecionou mais 30 artigos seus já publicados anteriormente no blog da Revista Capital, entre 2014 e 2017. Além de um texto de abertura inédito, um ensaio autobiográfico onde ela fala da sua experiência enquanto mulher negra. Passando pela infância, juventude até a vida adulta. Hoje como filósofa e militante, ela discute o “silenciamento”, o processo de apagamento da personalidade por que passou, como um dos muitos resultados da discriminação e como esse silenciamento molda a vida de mulheres negras.
Ao longo de todo o livro Djamila fala sobre situações do cotidiano como o aumento da intolerância às religiões de matriz africana; os ataques a celebridades como Maju ou Serena Williams. Black Face; machismo na literatura; racismo reverso; as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil. Além de exemplificar os conceitos de Interseccionalidade e noções de lugar de fala.
Djamila fala do sentimento de inadequação constante que sentia na infância e na adolescência, a consciência de ser uma pessoa negra em uma sociedade racista era algo que ela não teve a maior parte da vida. Estava sempre se esforçando para não ser notada, mas isso não tinha nada ver com timidez e sim com silenciamento
Ela nos chama atenção de que a universalização da categoria fomenta a invisibilidade da mulher negra e que “buscar novas epistemologias, discutir lugares sociais e romper com essa visão única não é imposição – é busca por coexistência.(…) Ao pensar o debate de raça, classe e gênero de modo indissociável, as feministas negras estão afirmando que não é possível lutar contra uma opressão e alimentar a outra, porque a mesma estrutura seria reforçada.” Ou seja, é urgente que se pense Interseccionalidade, nas opressões como um todo e não separadamente.
E quando a autora fala de privilégios ela também fala de representatividade e Lugar de fala, que num país como o nosso, onde mantém a população negra na subalternidade, é preciso rever os conceitos, pois o racismo existe e é “inocência” pensar que ele acabou com a escravidão.
E se pudesse resumir esse livro em uma frase, seria essa: “Pensar feminismo negro é pensar projetos democráticos.” Pois feminismo é um movimento político e ideológico, que vem salvando muitas mulheres, mas ele só será plural quando os privilégios forem repensados e reconhecidos por parte das feministas brancas. Se dizer feminista e não repensar os privilégios, não se ater as pautas de raça e classe, só reforça o racismo e as mesmas opressões estruturantes.
O empoderamento feminino que tanto falamos significa “comprometimento com a luta pela equidade. Não é uma causa de um indivíduo de forma isolada, mas que promove o fortalecimento de outros com o objetivo de alcançar uma sociedade mais justa para as mulheres”. E implica “(…)promover uma mudança numa sociedade dominada pelos homens e fornecer outras possibilidades de existência e comunidade. É enfrentar a naturalização das relações de poder desiguais entre gêneros e lutar por um olhar que vise a igualdade e o confronto com os privilégios que essas relações destinam aos homens. É a busca por suas escolhas, por seu corpo, por sua sexualidade.”
Quando estava lendo esse livro, uma amiga estava ao meu lado apontando o título do livro achando-o intrigante e me perguntou o qual significado de Feminismo Negro. Tentei explicar da melhor forma que consegui. No fim, ela confessou que nunca tinha parado pra pensar que mesmo dentro de um movimento que luta por igualdade pudesse existir exclusão, pois achava que feminismo abraçava TODAS as mulheres e disse que procuraria saber mais a respeito. Lamentei com ela o fato de o feminismo ainda ser excludente no que diz respeito ao recorte de raças e etnias. Mas que livros como o da Djamila, e outras pensadoras, como Sueli Carneiro, Chimamanda Ngozi Adichie, Angela Davis, Bell Hooks, Grada Kilomba, Sojourner Truth, Conceição Evaristo, e muitas outras que ela cita ao longo dos ensaios, propõem colocar em pauta problemáticas importantes como Racismo Institucional, novas vertentes do feminismo, hegemonia de classes, interseccionalidade e pluralismo de ideias.
Bom, nem preciso dizer que Indico para TODXS que querem repensar os privilégios e aprender um pouco mais sobre todas essas questões que destaquei aqui.
A única coisa que me incomodou um pouco durante a leitura foi a repetição de alguns temas. Entendo que o livro é um compilado de textos já publicados, portanto é normal ocorrerem algumas repetições, mas fiquei incomodada com algumas delas. E sabe o que me intrigou? Depois parei pra pensar sobre isso, e o fato de Djamila se repetir é só mais um reflexo do racismo constante e da constante necessidade de rebater todo santo dia. Não é fácil, mas a luta tem que ser diária.
Não só recomendo como digo que essa é uma leitura essencial e urgente.
Onde Comprar:
Submarino
Em maio de 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad. Escreveu o prefácio do livro “Mulheres, raça e classe” da filósofa negra e feminista Angela Davis , obra inédita no Brasil e que foi traduzida e lançada em 2016 pela Editora Boitempo.
Organizadora da coleção Feminismos Plurais, da Editora Letramento. Coleção que visa abordar aspectos e perspectivas dos feminismos, tendo como pilar as mulheres negras e indígenas e homens negros como sujeitos políticos. “O que é lugar de fala?” é a primeira obra da coleção, escrita pela própria Djamila Ribeiro.
{ Esse livro foi enviado pela editora Companhia das Letras para resenha no blog. Em compromisso com o leitor, sempre informamos toda forma de publicidade realizada pelo blog }
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