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Rasgando a saia: garotas e barulho em playlist

Descabeladas, nervosas, barulhentas. Bandas punks feministas e riot grrrls estão aí para mostrar que o rock não vive só de barbas e cuecas, mas de saias, sim, senhor. Esta playlist  (link logo abaixo), no entanto, não é voltada para as bandas tradicionais dessas vertentes, como as já conhecidas Bikini Kill, L7, Le Tigre e Sleater-Kinney – apesar de eu não ter me segurado e colocado na lista a punk/grunge Babes in Toyland (que já teve como ex-integrante a Courtney Love, uma boa observação). É voltada para as garotas mais ousadas, com músicas mais pesadas e berros mais altos, independente do estilo.

A playlist começa com Free Kitten, um “supergrupo” formado em 1992 pela icônica Kim Gordon, ex-vocalista e guitarrista do Sonic Youth, com outros nomes ilustres, como Julia Cafritz (Pussy Galore), Mike Ibold (Pavement) e Yoshimi P-we (Boredoms). A faixa “Oh Bondage Up Yours!”, originalmente gravada pela banda X-Ray Spex, foi lançada como single pela Sympathy for the Record Industry, integrando a compilação “Alright, This Time, Just the Girls”, de 1999, composta por 48 faixas interpretadas por vozes femininas.

A segunda música, intitulada “Doctor”, é do trio Priests, que soltou um EP absurdo em 2014, o “Bodies and Control and Money and Power” – furioso, enérgico, questionador, libertino, um cuspe na cara. Já a terceira música, “The Closet”, é da pós-punk Teenage Jesus and the Jerks, fundada por outra musa, a Lídia Lunch. A banda foi bastante significativa dentro da cena underground novaiorquina na década de 70, dentro do movimento No Wave. De acordo com Simon Reynolds, no livro “Rip it up and start again – postpunk 1978-1984” (2005), o objetivo do movimento era romper qualquer ligação com os costumes e tradições ligadas ao rock. “Eu odeio quase tudo relacionado ao punk rock”, recorda Lydia Lunch […]. “Eu acho que No Wave não tem nada a ver com isso” (p. 51, tradução livre).


A quarta e quinta faixa são a parte “pussy” da playlist: primeiramente, Perfect Pussy, uma banda com a mesma pegada da Priests, mas com um álbum um pouco mais uniforme, mas não menos energizante, lançado também no ano passado. Já Mannequin Pussy tem um som mais leve, arrastado e melódico – “Clint Eastwood” traduz bem o espírito do álbum “Gypsy Pervert”. A sexta faixa da lista é uma versão de “All by myself”, de Celine Dion, feita pelas garotas da Babes in Toyland. É poderosa e conserva a mesma depressão da original, só que de uma maneira um pouco mais maníaca. Em seguida, Shoppers (noise/rock/punk), que foi uma alegre surpresa nas minhas buscas para escrever esse texto. Nas músicas da banda, a vocalista Meredith Graves passa a sua mensagem, uma mensagem urgente: berros em meio ao ruído e, em meio aos berros, letras que abordam temas como ansiedade, relacionamentos e sexualidade. “Silver Year”, de 2011, é um álbum que merece ser escutado.

Photo: Kevin Figueroa

No entanto, o grande destaque da lista é, sem dúvidas, White Lung, cuja música é terrivelmente poderosa. O vocal forte e decidido de Mish Way junto ao som que flerta com punk, metal e hardcore é um conjunto que exala atitude e anarquismo, exige posicionamento do ouvinte, uma reação, qualquer coisa, desde que seja rápido. Te dá um murro, te tira do eixo, te leva a um mosh pit em dois segundos. As letras são atrevidas e um tanto sujas, como se estivéssemos ao lado de uma caçamba de lixo, em um beco cheirando a mijo: “Take me, sunny city/Burn it, big bright/The garbage in my spine/Baby’s gonna bite”. Vale conferir “Deep Fantasy”, disco que considero um dos melhores de 2014, capaz de espantar qualquer demônio. Ou deixá-los um pouco mais perto.

Já Marnie Stern dá um mergulho no math rock, com guitarras em um ritmo sincronizado, só que de uma maneira mais experimental. Não por acaso, a cantora e guitarrista, que dá nome ao grupo, já foi premiada diversas vezes por sua versatilidade com o instrumento. A música “Female Guitar Players are the New Black” faz parte do álbum que leva o nome da banda e foi gravada quando Zach Hill, do Death Grips, ainda integrava o grupo – outro ponto de destaque, a bateria, não se perdeu com o novo integrante, Kid Millions, como é perceptível no álbum mais recente, o “The Chronicles of Marmia” (2013). Ponytail, grupo que fecha a playlist, é de um experimentalismo mais extremo, em que vários estilos se alternam em uma aparente desordem; cada integrante parece ter uma liberdade muito grande para criação, de forma que todos se destacam. Infelizmente, a banda encerrou seus trabalhos em 2011 – mas se até Sleater-Kinney voltou, por que não guardar esperanças?

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