Ele tem dois metros e meio de altura e pesa quase meia tonelada. Suas mãos podem amassar aço como uma folha de papel, e seus olhos podem acompanhar o voo noturno de um morcego só com a luz das estrelas. Ele também pode ficar uma hora sem respirar e caminhar durante dias carregando grandes pesos sem se cansar. Sua pele é tão áspera e dura quanto seu nome poderia sugerir, mas, por dentro, ele é uma das pessoas mais humanas e fascinantes dos quadrinhos modernos. O nome dele é Concreto.
Como se pode perceber; criar personagens grandões ou deformados com um coração puro já se tornou um clichê há tempos. Mas como dizem por aí: “se é clichê, é porque é bom!”. Não concordo e nem discordo desta afirmação, afinal existe o clichê bom e o clichê ruim. Nesse caso eu acredito que seja um clichê bom. A história do personagem combina com isso. Seu passado, ao que tudo indica, sempre foi dessa forma. Ronald Lithgow já parecia ser uma pessoa bastante humana antes dos eventos recentes em sua vida. Mas à primeira vista Concreto: uma rocha entre rochas parece ser um quadrinho estranho. Vejamos por que…
Primeiro nos enchemos de curiosidade a respeito da origem do pesadão e depois, conforme a coisa se desenvolve, nos perguntamos aonde Paul Chadwick, – criador, roteirista e desenhista – quer chegar. Afinal de contas, é um pouco estranho engolir que um monstrão
desses, forte, resistente e tudo mais, gaste seu tempo atravessando o oceano atlântico por pura vaidade ou para chamar a atenção. Tudo bem que isso faz parte de um plano do governo, mas Ron acaba gostando da ideia e, agora que pode, deseja aproveitar ao máximoo que a vida lhe oferece e começa a fazer muito mais por conta própria.
Temos neste encadernado um conjunto de estórias mais ou menos montadas em duas ou três partes. Isso não fica definido em capítulos, não são exatamente separadas uma da outra e não representam um arco, já que não se fecha no final da edição, mas possui quebras. Percebemos que existe mais a ser lido e que tudo acaba de forma abrupta. Rola aquele gostinho de quero mais. O encadernado foi trazido pela Devir ao Brasil já há algum tempo (2004) e no total existem dez edições publicadas de Concreto lá fora. Algumas outras aparições acontecem em Dark Horse Presents, bem como participações especiais em outros títulos conhecidos da editora. Aqui dentro, como já é esperado, ficamos a ver navios. Não gosto de cornetar, pois o mercado editorial de quadrinho no Brasil vem melhorando – vide Panini e sua linha Vertigo – mas o problema não foi 100% solucionado. Muitos títulos ainda ficam inacabados ou recebem um tratamento errado.
Porém, nem tudo é negativo. Pelo contrário. Se formos ler o encadernado esperando um super-herói, ficaremos decepcionados. Por isso é bom avisar: leia Concreto sem nenhum compromisso. Além de não haver irritabilidade durante a leitura, nos surpreendemos com a parte mais importante dessa coleção. Lembra que eu falei da origem do pedregoso? Pois bem, ela está aí! E é super interessante. Podemos, antes mesmo de começar a ler, imaginar o que pode ter ocorrido, mas não da forma como realmente acontece. O cara é capturado por alguns seres dentro de uma caverna enquanto acampa com um amigo e, quando acorda, descobre estar em forma de pedra. Depois disso ele sofre com experiências até conseguir fugir e pedir ajuda a um velho amigo, seu antigo chefe. A partir daí o governo estipula que é necessário mostrá-lo ao mundo como um cyborg, injetando o maior número de publicidade possível em Concreto. A ideia é que as pessoas se encham dessa novidade o mais rápido possível. O legal da edição é que, por não ser contínua, sendo possível aquela divisão que citei anteriormente, podemos ler aos poucos sem que nenhuma influência de uma leitura passada seja necessária. Então pegue sua edição quando tiver um tempinho sobrando e faça uma pausa para um café. Umas três, talvez. Não é necessário mais que isso.
Falando agora um pouco sobre os aspectos técnicos e artísticos do encadernado, lembrando que eu sou um mero leitor, podemos fazer várias ressalvas com relação ao meu gosto. Primeiramente devo falar da arte do livro. A capa é um espetáculo a parte. As cores e
a finalização, tanto a frente quanto o verso, são de encantar qualquer um. Já o corpo interno é em preto e branco, não trazendo tanta emoção à arte final, mas ainda assim me agradou bastante. Gosto muito desse tipo de traço. Nada muito fora do normal, a não ser
quando necessário, como quando chega o momento da origem. Se estivermos lidando com algo diferente, temos que tratar de forma igualmente diferente. Então é isso que Paul Chadwick faz. Seus cenários são realistas, detalhando cada cantinho de um cômodo. Seus
personagens me lembram de desenhos antigos, clássicos, e ao mesmo tempo possuem um toque contemporâneo. Em momentos de muita criatividade, Chadwick consome uma página inteira misturando aspectos de uma só cena. Isso acontece muito por aí, mas em
Concreto fica mais que especial. É daí que chegamos ao roteiro, algo que não me agradou tanto. Achei parado. É como se algumas páginas tivessem sido tomadas por um marasmo absoluto. Já li que as demais edições melhoram nesse ponto, quando diálogos mais interessantes ou devaneios do próprio Ron são introduzidos à estória. Mas não posso ser injusto e dizer que é um roteiro ruim. Talvez tenha sido o meu momento no dia, ou quem sabe não peguei a essência do quadro ou da página. Acredito que Concreto tem bem mais a oferecer se lido em sua totalidade.
Portanto, esse encadernado pode ficar com merecidas 3 xícaras de café e meio biscoitinho para acompanhar. Considerei uma nota ruim pelo que minhas expectativas diziam a respeito da edição, mas acho que vale a pena a leitura.
É um pouco complicado falar a respeito da cronologia de publicações desse título. Pesquisei bastante, mas não ficou claro. Existem as edições como essa, em encadernados, totalizando dez e também as mensais da época de seu lançamento. Depois, verifiquei que outros volumes bem grossos estão disponíveis, com capítulos e arcos de nomes diferentes. A verdade é que me perdi. E como acontece com muitos quadrinhos autorais, Paul Chadwick encheu-se de falta de tempo e resolveu dar fim à Concreto. Ou seja, as dez edições mencionadas anteriormente não terão continuidade. Pelo menos não por enquanto. Já ouvi boatos de que ele retornaria com uma edição, bem robusta, mas até agora nada. Minha dica a quem ficou com vontade de ler é apenas fazê-lo caso pretenda ir atrás dos
demais números. Provavelmente só será possível importando, mas não é tão difícil fazer isso hoje em dia. Eu estou nesse processo no momento… mesmo que me dê um nó na cabeça.
Título: CONCRETO – UMA ROCHA ENTRE ROCHAS – Edição especial
Editora: Devir
Autor: Paul Chadwick (texto e arte).
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Agosto de 2004
Como ja havia dito gosto muito de livros com esse ar de historias em quadrinhos, eu gostei da dica.
Exatamente, existe clichê bom e ruim, e aqueles que sabem se renovar. De certa forma Concreto não me chamou muita atenção, não sei, sinto que faltou algo para me capturar para querer conferir.
Sobre importâncias
Depois de ler eu também não achei tudo o que parecia ser. Minha nota traduz isso. O que posso dizer é:
a) Leia. Você pode achar pelo menos legal.
b) Não leia. Você não estará perdendo muita coisa.
Acho que desse jeito não convencerei muitas pessoas… hehehe!
Não me agradou não….
Na primeira descrição achei que seria exatamente igual Frankenstein, mas acabei mudado de ideia na metade, acho que é parecido em poucos aspectos, até. O estilo do desenho, assim em preto e branco, me deu uma vontade imensa de ler, hahaha, mas o que desanima um pouco é essa confusão de publicações e falta de continuidade.
Pois é, acabei não verificando se o final de Concreto teve realmente um final (acredito/espero que sim). Acho que tanta confusão, quando resolvi pesquisar sobre o que eu ainda não havia lido do título, me fez desistir. Preferi entender lendo mesmo. Mas se vc estiver falando da falta de continuidade por aqui… bom, acho que teremos que engolir esse desânimo. Se sair vai demorar.
Essa confusão das edições me lembra bastante Hellboy. O diferencial é que o Hellboy chuta a bunda do concreto em tudo (arte, roteiro, etc.) e tem arcos fechados.
Não conhecia “Concreto”. Achei interessante, mas não sei se me animo a ler. Fiquei com a impressão de que ele “nada pra morrer na praia”… não chega a lugar algum.
Ester, esse encadernado sim. Como ainda não consegui ler as demais, não posso afirmar se a coisa muda ou não. Quando eu conseguir faço uma continuação ou então posto um comentário.
Ahhh não gostei muito do livro :/ nota baixa por edição.. hmmm melhor não arriscar com tantos bons por aí…
beijo