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Tempos frenéticos: a disco fever no Brasil

Chicago, 1979. No intervalo de um jogo de beisebol do time White Sox contra o Tigers, de Detroit, Steve Dah, recém-despedido de uma emissora que trocou o gênero rock pelo disco, realizou um protesto com direito à detonação de caixas de vinis, cheios de LPs de discoteca. O evento, que atraiu cerca de 80 mil pessoas – um número anormal para um jogo na época –, ficou conhecido como “O dia em que a discoteca morreu”, como explica o jornalista André Barcinski, no livro Pavões Misteriosos – 1976 -1983: A explosão da música pop no Brasil. A manifestação anti-disco culminou na invasão do estádio, provocando confronto com a polícia. O evento, porém, não marcou o fim do fenômeno, apesar de sua posterior decadência.

A discoteca teve explosão significativa no mundo e no Brasil na década de 70 (sim, a música brasileira é muito mais do que samba e bossa nova). Importante, inicialmente, entender como o disco surgiu e desmitificar alguns aspectos. Antes de ser tomada por globos de luz giratórios, luzes coloridas e roupas brilhantes – características bastante evidenciadas no filme Os embalos de sábado à noite (Saturday night fever, de 1977) –, a discoteca remonta diretamente à black music, sendo influenciada pelo funk, jazz e soul. Mais tarde, o mainstream tornou a música disco mais palatável, suave, pop. Seus principais expoentes são os grupos Abba, Village People, Bee Gees, Chic, Donna Summer, KC and the Sunshine Band e The Jackson 5.

Por trás de ritmos alegres, as letras das músicas disco alfinetam muitas questões sociais. São temas constantes a liberdade comportamental e sexual, e a busca por uma sociedade mais democrática e livre de preconceitos – principalmente para as mulheres e homossexuais. A discoteca foi o primeiro gênero a celebrar o estilo de vida gay, sendo o disco frequente em clubes do público alternativo, principalmente nas cidades de Chicago, Nova York e Filadélfia. Em discotecas do tipo, pessoas de diferentes idades, origens étnicas e orientações sociais eram tratadas de forma igualitária. A única palavra de ordem era a diversão. A Studio 54 e a Paradise Garage, em Nova York, tornaram-se casas famosas por causa do estilo.

A década de 70 também ressaltou a valorização do individualismo. O disco era considerado por Nile Rogers, do grupo Chic, como o estilo de música mais hedonista que existe:

A discoteca era realmente só sobre eu, eu, eu, eu! […] Não falava sobre salvar o mundo. Era sobre conseguir um parceiro, se divertir e esquecer o resto do mundo. De um modo estranho, isso era muito terapêutico […]. A discoteca era mesmo sobre a individualidade. E quanto mais freak você era, melhor.

No Brasil, a música disco teve seu auge com a novela Dancin’ Days (1978), de Gilberto Braga, em que uma ex-presidiária, interpretada por Sônia Braga, tenta se aproximar da filha. O nome da novela foi baseado na famosa boate de Nelson Motta, a Frenetic Dancin’ Days Discothéque. A casa durou apenas quatro meses, mas marcou a cidade do Rio de Janeiro. Foi lá que surgiu um dos grupos mais importantes do gênero, As Frenéticas, responsável pelo tema de abertura da trama de Braga. O sexteto – Leiloca, Sandra Pêra, Nega Dudu, Lidoka, Regina e Edyr – foi contratado por Motta, de início, somente para atuar no cargo de garçonete. No meio da noite, passaram a fazer apresentações, cantando algumas músicas no palco, o que acabou atraindo atenção da gravadora Warner, recentemente inaugurada no Brasil. Os álbuns Frenéticas (1977) e Caia na Gandaia (1978) foram os mais expressivos do grupo.

Em São Paulo, a febre do disco ficou com as Harmony Cats, grupo vocal feminino formado por veteranas de gravações em estúdio e de grupos pop que tocavam em bailes. Tornaram-se famosas por regravações de músicas de rock, da banda Bee Gees e de temas musicais da Broadway. Também são destaques da época as baladinhas dançantes e românticas da Lady Zu (com o álbum A noite vai chegar, de 1979), a audaciosidade de Maria Odete, mais conhecida como Gretchen (com Dance with me, de 1978); e a vivacidade e maestria de Tim Maia e a Banda Black (com o álbum Tim Maia Disco Club, de 1978). Nessa dança, até Gilberto Gil, caiu na pista com Realce (1979). Uma boa época para colocar aquela roupa colorida com strass e, como diriam As Frenéticas, não levar nada a sério, nem mesmo a si mesmo.

Bibliografia

BARCINSKI, André. 1977 – Na nossa festa vale tudo: a discoteca sacode o Brasil. In: Pavões Misteriosos – 1976 -1983: A explosão da música pop no Brasil. São Paulo, Três Estrelas, 2014. p. 84-100.

CÂMARA, Rafael; FARIA, Camila; PIOTTO, Bruno. Disco Fever: a febre das discotecas. Agenda, 2008. Disponível em: <http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/media/8%20-%20disco%20fever%20a%20febre%20das%20discotecas.pdf>. Acesso em 3 de abril de 2015.

História da Disco. Disponível em: <http://disconight.com.br/historiadisco.html>. Acesso em 3 de abril de 2015.

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