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Uma aula sobre a eterna ameaça fascista, por Umberto Eco

Aos 10 anos de idade, o escritor italiano Umberto Eco morava com a família na Itália governada por Benito Mussolini. Mesmo na época em que ainda desconhecia o alcance e as consequências mundiais do fascismo, o futuro escritor já conhecia de perto o estado de medo e submissão provocado por um regime totalitário. Em 1995, décadas depois da queda do regime na Itália, o filósofo falou sobre o contato que teve com o fascismo em um simpósio realizado pela Columbia University, nos Estados Unidos. Ao fato desse discurso ter se eternizado em um registro escrito, o mundo e a humanidade agradecem.

Desde a queda dos maiores regimes fascistas conhecidos – como os de Mussolini e Hitler, por exemplo, nunca se ouviu falar tanto nessa forma de governo como hoje, e ingenuamente nunca se constatou a possibilidade de seu retorno, como hoje admitimos ser uma ameaça possível. Mas afinal, o que é o fascismo? O que faz um governo ser considerado fascista?

Uma pesquisa rápida na internet nos dá a definição de fascismo como “movimento político e filosófico ou regime que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador”. Na definição de Eco, o fascismo é apenas uma das vertentes do totalitarismo, cujas características mais conhecidas são o culto ao líder, o medo (e hostilização) do diferente, a oposição à análise crítica e ao conhecimento, o machismo, o racismo, a repressão e um constante estado de ameaça. A conceitualização de um governo fascista, porém, não é tão definitiva na visão do autor. Ele explica que, eliminando uma ou outra característica entre seus princípios, um governo autoritário ainda pode ser considerado como fascista ou totalitário.

Essas mutabilidades dos regimes totalitários os tornam ainda mais alarmantes, na visão do autor, pela adaptabilidade da ideologia deturpada do fascismo e sua propensão em se fazer presente e aceito em qualquer período histórico, em qualquer lugar do mundo e em qualquer condição social. Basta que haja um “terreno fértil” e que um líder tome sua posição como salvador da pátria. Esse, aliás, é o grande alerta do discurso de Eco: o fascismo não existe apenas na forma estereotipada que conhecemos dos livros de história, e não foi um fato histórico congelado no início do século XX. Ele pode assumir formas autoritárias ou pseudodemocráticas, pode ter sua ideologia amparada em uma religião ou no ateísmo, pode seguir todos os preceitos marcantes do totalitarismo ou ser bastante diferente de qualquer outro movimento político já visto. O mais importante é que o fascismo pode, sim, se instalar na política com o apoio cego da população ou antes que o povo se dê conta disso, enxergando o problema tarde demais para ser revertido de forma democrática. Sendo assim, Umberto Eco alerta: o fascismo é eterno.

Além de nos apresentar aos conceitos gerais de fascismo e totalitarismo, o escritor também estabelece as características que transfiguram um país nesse terreno fértil para governos extremistas, sejam de esquerda ou de direita, e explica como os líderes fascistas se aproveitam das fragilidades de uma nação e/ou de um povo para tomá-lo como seu território de domínio. Em um discurso simples, acessível a qualquer faixa etária ou classe social, e por meio da experiência do próprio autor, somos alertados para o fascismo que chega nas entrelinhas, sem causar rebuliço, e que pode se instalar como uma erva daninha mesmo nas democracias mais sólidas do mundo.

Falando um pouquinho sobre a minha experiência com essa leitura, é impressionante como um pequeno livrinho, com cerca de 60 páginas, consegue causar tamanho choque na gente. “O Fascismo Eterno” é uma daquelas obras que deveriam ser trabalhadas nas escolas e universidades, debatidas e popularizadas mesmo entre os que não curtem uma boa leitura, pois é de uma imensurável utilidade pública. Umberto Eco nos ajuda a compreender, com seu discurso, o quanto a política não é só mais um “assunto chato a ser evitado” e, muito pelo contrário, algo que precisa ser estudado, compreendido e discutido (pacificamente, é claro). Só por meio do conhecimento crítico a respeito do mundo em que vivemos, podemos adquirir alguma noção sobre os perigos que nos rodeiam, sendo esse fascismo transfigurado uma das ameaças mais fortes, mesmo em pleno 2019.

Por ser um livro de leitura rápida (mas nem por isso leve), a resenha de hoje também não foi tão prolongada, pois acredito que o poder dessa obra se explica nela mesma. De qualquer forma, deixo aqui uma dica de leitura necessária em tempos de moralismo exacerbado, preconceito à flor da pele, Donald Trump e Jair Bolsonaro.

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ISBN-13: 9788501116154 | ISBN-10: 8501116157 | Ano: 2018 | Páginas: 64 | Editora: Record

Umberto Eco foi um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. Foi titular da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de ciências humanas na Universidade de Bolonha.

{ Esse livro foi enviado pela editora Grupo Editorial Record para resenha no blog. Em compromisso com o leitor, sempre informamos toda forma de publicidade realizada pelo blog 

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