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Uma carta de amor a Bloodborne

Gostaria de tomar a oportunidade de estarmos em outubro, mês da tradição estadunidense do dia das bruxas, para falar um pouco de um dos jogos que tanto amo e que é um forte candidato a melhor jogo da From Software, Bloodborne.

Minha primeira vez com a experiência brutal fornecida pela empresa foi com Dark Souls em 2012, porque em 2011, ano de seu lançamento, eu estava jogando Skyrim. Eu sei que Demons Souls veio primeiro, mas só fui ter curiosidade de joga-lo muito tempo depois. Talvez irei revisita-lo em seu remake no Playstation 5.

Bloodborne usa as mesmas táticas dos outros títulos: dificuldade brutal, manejo de estamina, combate mais estratégico que o regular hack’n slash, chefes icônicos, trilha sonora impecável, história propositalmente enigmática, etc. Em síntese, tudo que amo nesse novo gênero dos jogos de ação. CONTUDO, Bloodborne traz um plot twist: ele é mais jogo de terror que muitos jogos de terror por aí no mercado.

Bebendo de fontes como Bram Stoker, Bloodborne começa sua narrativa como uma história de caçada. Atmosfera gótica, monstros da noite dominando as ruas da cidade e a atuação dos Caçadores da Igreja para conter o chamado Flagelo das Feras. Com um olhar mais atento – exigido caso queira entender o que está acontecendo – o jogador começa a perceber que, gradativamente, a fonte muda para H. P. Lovecraft. As feras começaram a surgir em Yharnam devido ao consumo do sangue antigo, que era mais procurado que bebidas alcóolicas. Sangue este fornecido pela Igreja da Cura através de experimentos com os Eminentes, criaturas além de nossa compreensão com motivos e planos igualmente incompreensíveis.

O design das criaturas combinado com seus efeitos sonoros é magicamente perturbador. Essa mistura faz o jogador temer pela vida de seu personagem em qualquer batalha, além do já clássico estímulo de temer perder toda a experiência acumulada por horas sem achar um save point para descansar. A From Software já conseguiu, com sucesso, gravar isso em nossa consciência.

Atualmente os jogos de terror voltaram em alta. Resident Evil é bom de novo, Amnesia gerou crianças como Outlast e o lendário P.T. de Hideo Kojima gerou toda uma leva de jogos “pessoas-trancadas-numa-casa-mal-assombrada”. Contudo, o mercado está recheado de jogos que, basicamente, são feitos para youtubers jogarem. O terror não é envolvente quando o jogo abusa de jumpscares ou se utiliza de premissas clichês e mal utilizadas. Usar jumpscare em um jogo de terror é o equivalente da piada de peido num show de comédia, pode até tirar uma boa reação se for bem utilizada, mas se usada constantemente, perde a pouca eficácia que tem por conta da dessensibilizarão.

Pela mistura de atmosfera opressora, inimigos bem construídos e posicionados, história como ponto integral do gameplay e constante ameaça desde os momentos iniciais do jogo até suas últimas áreas fazem de Bloodborne um terror que nem intenção de ser terror tem. Sim, o terror é subjetivo, cada pessoa terá medo de uma coisa diferente, mas a sensação mais proeminente no título em questão é a de incerteza, ansiedade e, às vezes, desespero.

Escutei um barulho estranho, será que eu vou lá ver? Será que tenho arma pra isso?”

Já faz algum tempo desde a última vez que apareceu uma lanterna. Tenho que tomar cuidado pra não perder esse tanto de ecos de sangue que acumulei até agora”

NÃO, NÃO ERA PRA EU ENTRAR NESSA SALA”

Esses são alguns dos pensamentos que podem passar pela sua cabeça durante seu tempo com Bloodborne.

Eu não posso esquecer de falar da trilha sonora. Talvez uma das melhores já feitas pela indústria, você pode sentir a atmosfera das localidades através dela. Até mesmo o silêncio em Bloodborne é opressor. Ah, claro, as músicas originais dos chefes, aaaah pelos deuses, elas conseguem te passar um desespero que não pode ser descrito. Confira abaixo a trilha sonora da Blood-Starved Beast, que vai aumentando sua intensidade conforme a luta progride.

Por muito tempo houve uma disputa em minha mente sobre qual seria a melhor experiência da From Software, Dark Souls ou Bloodborne. Como citei no começo deste texto, Dark Souls foi minha primeira experiência e, pra mim, a mais refinada da trilogia. O segundo e terceiro jogos tem seus méritos, avanços e qualidades, mas não conseguiram capturar os mesmos suspiros que seu predecessor (salvo a DLC The Ringed City, de Dark Souls 3). Bloodborne, por outro lado, conseguiu reproduzir a mesma sensação e ir além em alguns pontos, justamente pelo ambiente de terror que tanto me chama a atenção.

É fazendo esta carta/reflexão que chego à conclusão, junto a você, que Bloodborne é meu jogo favorito produzido pela From Software e integrante desse gênero de jogos ainda não historicamente nomeado, até porque não dá pra chamar pra sempre de sousbornekiro ou, eventualmente, sousbornekiroring.

Tonight, Jhonatan joins the hunt!

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