Conto ambientado no cenário Lobisomem: Os destituídos (novo mundo das trevas).
Um líder não pode demonstrar fraqueza.
Talvez fosse isso que meu pai queria ensinar. Quando eu era criança, ele visitava nossa casa uma vez por mês, me batia a ponto de tirar sangue depois levava minha mãe para o quarto, pelo tanto que ela gritava parecia que estava sendo espancada.
Nos padrões da minha raça, tive uma juventude normal, eu não sou humano, sou um Uratha, ou lobisomem como preferir. Diferente dos filmes, podemos nos transformar a hora que quisermos, mas a forma Gauru, a do monstro gigante, meio lobo, meio homem é realmente perigosa, um insulto pode fazer com que a raiva se transforme em uma fúria mortal, o Uratha perde o controle e destrói tudo, até mesmo os aliados.
Na região onde morávamos, duas alcateias disputavam território, a nossa, regida pelo totem do leão e liderada pelo meu pai, e outra, regida pelo totem do unicórnio, liderada por um Uratha chamado Kalash Presa Sombria. Nossa alcateia era muito menor, numa proporção de um dos nossos para três dos deles, a cada combate ou negociação nossos territórios diminuíam. Para piorar, os anos finalmente atingiram meu pai, ele estava velho, e muitos acreditavam, incapaz de nos liderar.
A assembleia.
Aconteceu em uma floresta, a lua cheia iluminava a clareira em que estávamos, as duas alcateias face a face. No centro estavam os líderes, ambos na forma Gauru, precisavam demonstrar poder e auto-controle. Kalash era um imenso lobisomem de pelagem negra, meu pai, não tão musculoso, tinha uma pelagem como a minha, avermelhada com focinho preto.
Kalash foi taxativo, ele estava requisitando toda a cidade como território, incluindo todos os humanos com sangue lupino, minha mãe e meus irmãos por exemplo. Apenas 2% das pessoas de sangue lupino se tornam lobisomens, os outros são usados para reprodução. A longo prazo nossa alcateia seria extinta. Entretanto, a desvantagem numérica inibia contestação.
Meu pai olhou para cada um de nós, era possível ver a expressão de medo em seus olhos, juro pelo pai lobo, por luna, por todos os espíritos que ele demorou os olhos sobre mim, como se pedisse ajuda, precisava fazer algo, e fiz.
Um líder não pode demonstrar fraqueza.
Assumi a forma Gauru e avancei, os lupinos descendentes de ciganos são os mais rápidos entre os Uratha, antes que qualquer um esboçasse reação, enterrei a garra no estômago do meu pai, ele urrou, se desvencilhou e acertou minha face. Todos olhavam atônitos, foi rápido demais, não tiveram tempo de reagir. O próximo golpe foi certeiro, uma mordida na jugular, meus dentes rasgaram a pele e os fortes músculos do pescoço, acertando veias e artérias, em poucos segundos meu pai agonizava no chão, todos sabiam que não havia mais volta. Kalash sorria.
Em seguida aproximei do Presa Sombria, passei da sua zona de conforto chegando tão perto que nossos focinhos praticamente se encontraram, ele não recuou. Não podia demonstrar fraqueza. O sangue se misturava ao suor e escorria pelo meu pescoço, o hálito do inimigo me incomodava, fedor de carne humana e álcool. Tentei falar de forma cortês, afinal a proporção era de três deles para um dos nossos, a cortesia não saiu:
– Repita seus termos. – disse.
Eu podia ouvir o coração de todos acelerado, o engolir seco de alguns da minha alcatéia, estavam paralisados pelo inesperado. Kalash era um pouco mais alto, abaixou a cabeça até que nossos olhos se cruzassem e falou com um sorriso:
– Isso é assunto de adultos, filhotes não deveriam se intromet…
Minha pata voou em sua têmpora como um relâmpago, cortando a frase e um pedaço da orelha. Ele caiu no chão com um estrondo, o pedaço de orelha retornou à forma humana em meio ao sangue.
– Eu mandei repetir, não mandei fazer piada. REPITA SEUS TERMOS! – Rugi.
Alguns inimigos rosnaram, outros mostraram os dentes, uns iniciaram a transformação para Gauru, todos prontos para o combate, mas como lutar se o alfa estava no chão? Um instante de hesitação e perderam o momento. Latiram. Cão que late não morde. Kalash se levantou.
O Presa Sombria começou a andar de um lado para o outro, mexia as garras de forma compulsiva, tentava controlar a fúria. Eu olhava para ele de forma impassível, a proporção era de 3:1, mas eu não importava, nunca fui bom em matemática. O silêncio foi absoluto, até os animais se calaram, os únicos sons eram as respirações ofegantes e corações acelerados. Kalash se controlou. Parou de andar.
– Um dia vou te matar por isso garoto. Alegre-se, esse dia não é hoje – Sorriu o Presa Sombria. – Vamos! – Gritou e entrou na floresta seguido por seu grupo.
Admirei Kalash naquele dia, compreendi porque sua alcateia era tão superior. Orgulho é fraqueza, humildade é força.
Um líder não pode demonstrar fraqueza.
Gostei muito! Quero mais desses! =D
Monstro d+
Apoio o Lucas… Mais desses!