Dark Souls rapidamente ganhou o título de jogo mais difícil dessa geração, e foi merecido. O game praticamente te obriga a ser cuidadoso, observar os padrões dos inimigos e estudar o momento exato de ataque e, além de tudo, paciência. Há alguns hábitos que você precisa desaprender se quiser jogar Dark Souls, como apertar botões descontroladamente em uma batalha e apenas correr pelo mundo sem prestar atenção. Além disso, o jogo te dá perto de nada quanto à informação para prosseguir, você precisará interagir com os enigmáticos NPC’s se quiser ter uma razoável pista do seu próximo passo, ah, isso tudo sem um mapa, espero que seu senso geográfico esteja afiado.
O jogo é legal e tudo mais, contudo, a questão que a maioria das pessoas pergunta é: por quê? Por que jogar um jogo tão difícil? Vídeo game não é apenas um divertimento? Por que passar raiva e frustração no seu momento vago? Primeiro de tudo, vídeo game deixou de ser apenas um divertimento há anos, segundo, a psicologia responde: porque você é um ser humano, que gosta de vencer desafios e essas vitórias, sejam físicas ou virtuais, tem um efeito positivo direto no seu corpo.
Na psicologia behaviorista – ou comportamentalista, se você não é fã de termos gringos – existe o conceito de resposta (ações do indivíduo) e estímulo (eventos do ambiente), que formam a relação comportamental entre um indivíduo e o que acontece ao seu redor. Juntando a isso, temos o reforço, que é um estimulo que irá alterar a probabilidade da ocorrência da resposta. O reforço positivo aumenta a resposta quanto a um estímulo bom e o reforço negativo aumenta a resposta quanto a um estímulo ruim. Confuso? Nem tanto, vamos colocar isso na prática de Dark Souls.
No começo do game, você não sabe a utilidade dos Bornfires. Após aprender que eles fazem um checkpoint em seu progresso, curam seus ferimentos e enche seu Esthus Flask (item de cura), você é condicionado a repetir o processo de descansar em um bornfire toda vez que avistar um, o que é um reforço positivo. Lutando contra um monstro, você apanha e morre ao ponto de exaustão. Nesse processo, você começa a perceber que deve usar de observação e estratégia para lidar com a ameaça, a fim de reduzir o dano causado ao seu personagem e até mesmo as mortes, isso é o reforço negativo, quando você responde para que o estímulo acabe, quando o ambiente te induz a pensar em uma forma de acabar com o estímulo ruim, no caso, morrer constantemente.
Mas o que, além de loucura e masoquismo, faz o jogador querer ir até o final de Dark Souls, ou qualquer outro game muito difícil? O senso de recompensa, de realização. Depois de derrotar cada chefão, ou passar de uma área muito difícil, o jogador é recompensado com almas, humanidades ou itens mais poderosos, o que, em si, é um estímulo para continuar. Claro, o game continua ficando cada vez mais difícil e ele não te permite ficar muito forte, mas mesmo assim, é um aglomerado de estímulos para quase ensinar novamente como se deve jogar vídeo game. Ao vencer um dos vários desafios impiedosos em Dark Souls, o jogador receberá uma dose de dopamina no cérebro, um importante neurotransmissor que serve como um mecanismo de recompensa (e de comportamento também, ligando com o que vimos acima) e que o fará se sentir bem, assim como quando se come uma boa comida ou se faz felicidade que envolve a nudez de duas pessoas ou mais – vocês entenderam, só estou tentando evitar o termo.
Pensei nesses termos na primeira vez que terminei Dark Souls e foi fácil olhar como o título faz uma analogia ao nosso cotidiano. Você irá tentar alguma coisa, tem chances de fracassar, mas ao invés de tentar a mesma coisa repetidas vezes, deve reavaliar estratégias de como abordar aquele evento. Quando sai vitorioso, se sente uma pessoa nova, realizada e bem recompensada, porém, interpretando bem o que aprendeu, vai saber que a vida nunca vai facilitar pra você, não importa o quanto você pense que é capaz. Avaliação super exagerada de vídeo games, você vê aqui no Pausa!
É bom lembrar que essa análise não vale apenas para este jogo, mas também para outros com o mesmo núcleo de jogabilidade. Quanto ao próprio Dark Souls, dou quatro xícaras e meia do melhor café do mundo, esquentadas nas profundezas de Lost Izalith, mas antes de terminar a última xícara, ela caiu e quebrou, porque eu levantei com raiva por ter passado trinta minutos tentando matar um chefe e acabei caindo num penhasco.
Não se esqueça, PRAISE THE SUN o/
Ótima matéria. Sou praticamente viciado nesse jogo e também curso Psicologia. Sempre que jogo lembro dos conceitos do Behaviorismo, o que acaba me motivando mais a seguir, estudar os inimigos e cenários, explorar com um cuidado cada vez maior etc.
Muito bom mesmo =)