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Entrevista com autora do livro Padaria – Gislene Vieira de Lima

Temos hoje mais uma autora da Editora Modo presente na coluna Nossos Autores!

Venham conhecer um pouco mais da autora Gislene Vieira de Lima, autora dos livros Padaria e A Princesa com Olhos de Gato.

Pausa: Atualmente você já possui dois livros publicados, pode contar um pouquinho sobre como é seu processo de escrita? O que te inspira a escrever?
Gislene: Olha, o meu processo de escrita é algo um tanto quanto complicado de explicar. O mesmo com a minha inspiração. Eu praticamente estou sempre criando. Não é algo que eu controle. Ontem, por exemplo, estava com uma turma que estava em processo de produção de animação com massinhas. Uma fase em que sou bem pouco requisitada. Comecei a observar o lugar que possui paredes de vidro que dão para uma área aberta que termina em uma rampa. Comecei a imaginar mortos vivos subindo por ali e vindo em direção a nós e comecei a vasculhar os lugares por onde poderia sair já vendo cabeças e corpos batendo nos vidros dianteiros. Um aluno estava me observando e começou a dar risadas perguntando o que, exatamente, eu estava fazendo. Eu não sei o que eu estava fazendo de fato. Mas já estava em um canto verificando as janelas. É assim que funciono. Meu maior problema não é criar e sim organizar e conseguir dar conta de escrever. Acabo tendo um monte de coisa escrita em uma babel de papéis, arquivos, textos que ficam espalhados esperando pela chance de serem encaixados em alguma história.
Quanto mais tempo eu fico sem escrever, mais sou acometida destas distrações imaginativas” a ponto de, finalmente, estas invadirem meus sonhos. Por isso tento manter uma rotina de escrita uma vez por dia apesar de nem sempre conseguir fazer isso.
Pausa: Como resolveu ser escritora? E quem te influenciou a começar a ler e escrever?
 Gislene: Nunca parei para pensar. Não me ocorreu sequer a hipótese de ser “escritora” na concepção profissional da palavra. Eu tentei sim ser aceita por editoras por achar um desperdício vê-las mudas e esquecidas nas gavetas de meus armários, mas como sempre foi o senso comum que brasileiro não lê
e livros não dão lucro se você não for famoso ou puder dispor de boa quantidade de dinheiro para o investimento na divulgação a escrita apenas permaneceu como um amor platônico, sem possibilidades de compromisso. Pelo menos era assim antes do advento da Internet. Agora o mundo da escrita parece ter se tornado mais amplo e a profissão de escritora parece ter se tornado mais palpável. Eu demorei muito para aprender a ler. Fui a última de minha turma. Mas sempre desenhei e sempre fui muito boa em criar histórias. Por isso já criava minhas histórias narrando e desenhando antes de ser capaz de fazer o mesmo pela escrita. Quando finalmente me alfabetizei passei por um longo período como devoradora de livros. Minha compulsão criativa ficava nos desenhos, depois nas histórias em quadrinhos e finalmente, lá pelo final de minha adolescência, comecei a ser capaz de escrevê-las, pura e simplesmente.
Pausa: Qual é o seu livro e/ou escritor preferido?
Gislene: Essa é uma pergunta bem complicada. Iria ficar aqui fazendo a lista das 20.000 léguas literárias e ainda não chegaria ao fim. Mas vou tentar fazer um resumo. Eu leio muito e pela prática leio rapidamente.
Comecei pelos gibis e livros infantis. Na minha infância, acho que o livro que mais gostei foi “O menino do dedo verde”. Pelo menos este foi o único título que carreguei na minha memória para a vida adulta.
Dos livros obrigatórios da escola gostei de “Senhora” e “Capitães de Areia”. Dos que recebi de presente as obras de Julio Verne. Adorava Julio Verne. Sempre gostei muito de contos de fadas também. E lendas. Com as “Brumas de Avalon” descobri as lendas arturianas. Com “Xogum” descobri os romances asiáticos que até hoje aprecio muito mesmo que James Clavel seja um norte americano. Nesta linha também gosto muito de “Pearl Buck” uma inglesa nascida na colônia da Indochina. Ah, já estava me esquecendo da fase detetivesca com Conan Doyle e Agatha Christie. Depois entrei em uma fase de terror. Primeiro Edgar Alan Poe e depois Stephen King. Aí vieram os vampiros com Anne Rice. E por aí fui. Hoje em dia estou me dedicando a ler aos clássicos da literatura mundial, a ler todos os mangás que meus alunos me fornecem e lendo livros técnicos na área de educação, psicologia e computação gráfica.
Pausa: Qual é a sua relação com os personagens de seus livros, você acaba se apegando muito a eles?
 Gislene: Minha relação com meus personagens é um pouco de amor e ódio. Isso porque, apesar de poder determinar o ponto em que começam geralmente perco o controle sobre eles logo nas primeiras linhas.
Com isso acabo ficando em uma situação complicada em diversos pontos da história. Por exemplo, tenho uma personagem em um livro que arrumou uma doença que eu nunca vi em lugar algum. Depois de vasculhar todos os nomes de doenças apresentados no Dr. House, agora tenho me dedicado a ler
textos médicos na rede procurando por uma doença desconhecida. Nesses momentos eu realmente odeio meus personagens. No entanto, quando releio suas histórias, me pego gostando deles novamente, me preocupando com este ou aquele ponto que não tinha percebido antes. Então acho que minha relação é de amor e ódio mesmo.
Pausa: Quando publicou seu primeiro livro, foi um processo difícil encontrar uma editora?
 Gislene: Eu comecei a procurar por editoras na década de oitenta. Uma época de recessão aqui no Brasil onde, pasmem, ainda não existia a internet nem o celular. Com o mercado tão ruim, mesmo mandando meus
livros para várias editoras e tendo visitado algumas, não consegui nenhuma resposta satisfatória. Como não tinha dinheiro para publicar já que naquela época o processo de impressão em uma gráfica não era tão simples nem tão barato quanto hoje, me resignei a continuar escrevendo sem nenhuma expectativa de publicá-los. Neste ínterim surgiu a internet e todas as facilidades que conhecemos hoje e através dela acabei descobrindo um local para deixar meus livros disponíveis para editores e assim cheguei a uma
editora disposta a investir em uma escritora desconhecida como eu.
Pausa: Qual a dica você daria aos nossos leitores que estão começando a escrever seus livros?
Gislene: A dica que dou é cuide muito bem de todas as etapas da construção de seus livros sem ficar tão aflitos para a etapa seguinte. Aprendam a se divertir um pouco com o processo e a serem mais exigentes com o que estão criando. Releiam. E quando acharem que tudo está legal. Releiam novamente. Às vezes argumentos geniais se perdem dentro de uma escrita ainda não amadurecida. Depois disso verifique como está o mercado antes de pensar na forma de apresentar suas obras. O mercado literário varia muito e no caso do Brasil, está
sempre sendo mais influenciado pelo que acontece fora do que pelo que acontece dentro das terras tupiniquins. Por exemplo, a recessão mundial está trazendo de volta o terror, os zumbis, as fugas da realidade (ótimo para as fantasias e os contos de fadas) e por tabela, como a xenofobia é algo que se torna mais intenso com o desemprego; os filmes de invasão, de destruição vinda de fora, enfim, de apocalipse. Se não se ficar de olho no que acontece
no mundo, pode ser que sua obra seja lançada em um momento ruim, mesmo que ela seja realmente muito boa. E depois, aquilo que estou aprendendo “na pancada” agora, vem a divulgação. Divulgar livro é um trabalho de formiga. Lento, dispendioso, que exige mais tempo e dedicação do que a própria escrita. Publicar é apenas o começo de uma longa jornada que irá demorar alguns anos para dar algum retorno. Não é um processo muito fácil. Só iniciei este processo a pouco mais de seis meses. Mas eu tenho percebido que aquilo que tem me dado mais prazer nesta coisa de ser escritor é aquilo que eu chamo de “ler o leitor”. É uma sensação rara perceber que algo que é seu, que saiu de sua cabeça está agora no universo pessoal de outra pessoa. Eu fico me controlando sempre pra não ficar perguntando “o que achou?” para todo mundo que lê minhas histórias. Quero ver o que eles viram para entender àquilo que eu mesma criei.
Bem pessoal, essa foi a entrevista com a Gislene, o que vocês acharam?
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