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Mil Palavras, Jennifer Brown

Sinopse: O namorado de Ashleigh, Kaleb, está prestes a partir para a faculdade e a jovem está preocupada que ele se esqueça dela. Então, em uma famosa festa de final do verão, as amigas de Ashleigh sugerem que ela mande uma foto nua para ele. Antes que possa mudar de ideia, Ashleigh vai para o banheiro, tira uma foto de corpo inteiro em frente ao espelho, e aperta a tecla “enviar”.

Mas o término do relacionamento do casal é ruim e, para se vingar, Kaleb encaminha a foto para sua equipe de beisebol. Em pouco tempo, a foto viraliza, atraindo a atenção do conselho da escola, da polícia e da mídia local. A pena ordenada a Ashleigh pelo tribunal é prestar serviço comunitário, e é onde ela conhece Mack, um jovem que oferece uma nova chance de amizade, e é o único que recebeu a foto e não olhou.

A aclamada autora Jennifer Brown traz aos leitores um romance emocionante sobre honestidade, traição e redenção, amizade e atração, e integridade, mostrando que uma imagem pode valer mil palavras… mas nem sempre conta a história inteira.

Devo começar dizendo eu sou fã de Jennifer Brown desde que li A Lista Negra (ainda o melhor livro da autora para mim), então fiz a leitura com altas expectativas, se elas foram atendidas aí é outra história…

Temos um plot principal direto e objetivo: a viralização dos nudes e suas consequências. Mas vamos começar do começo. Ashleigh é uma garota de 17 anos que está no ensino médio. Ela tem uma “vida perfeita”: é corredora na equipe de cross-country, tem amigas, é popular e namora um dos caras mais cobiçados do colégio, o Kaleb. No entanto, o romance parece ameaçado quando Kaleb se forma e está prestes a se mudar para faculdade.

Através da leitura percebemos que Kaleb recebe muito mais do que dá. Ele está sempre trocando Ashleigh pelos amigos e deixando-a sozinha e insegura. Em uma festa da sua melhor amiga, Vonnie, a nossa protagonista revela seu medo para as amigas e elas a incentivam a “presentear” Kaleb com algo inesquecível: uma foto nua. Reunindo toda a coragem ela envia o nude a ele.

O primeiro indicativo da falta de confiança na relação acontece porque Kaleb fala da foto para um dos seus amigos do Baseball, Nate, envergonhando Ashleigh. É de se entender que em um relacionamento há coisas que devem ficar apenas entre o casal e justamente por isso surgem as primeiras brigas entre eles. Com Kaleb na faculdade e insegurança de Ashleigh os dois corroem a relação, até que ele volta a cidade para pôr um fim nisso.

Mas esse é apenas o primeiro problema da protagonista.Suas amigas decidem fazer uma pegadinha, como uma espécie de vingança, com Kaleb em retaliação por Ashleigh, o que acaba deixando-o muito zangado e aí que a maior traição e ato de covardia acontece, Kaleb envia o nude de Ashleigh para todos os seus amigos.

A história, ainda no começo, é dividida mostrando o presente no serviço comunitário e o passado recente, até os dois tempos colidirem e formarem uma única narrativa. Nesse tempo vemos toda violação de privacidade, julgamentos e xingamentos que Ashleigh passa a sofrer. Ela tem sua vida virada de cabeça para baixo e se vê traída pela pessoa que mais amava. Com o tempo, ao invés de melhorar, a situação vai tomando maiores proporções. Seus colegas não tem empatia e compartilham a foto e seu número sem pudor, ela é xingada de promíscua e outras coisas bem piores. Tudo vai virando uma bola de neve que chega ao diretor,seus pais e, por fim, ao tribunal.

No começo eu não entendi o porquê de Ashleigh ser julgada quando na verdade ela é a vítima, mas nos EUA qualquer pessoa, incluindo menores de idade, que tiverem e compartilharem pornografia infantil enfrenta consequências judiciais e pode chegar até a ser preso. 

Ash passa a sofrer com o bullying, a insensibilidade e a solidão, pois não é compreendida e nem reconfortada por ninguém. No serviço comunitário, porém, é onde ela encontra apoio. Apesar de mostrar os personagens que compartilham esse cenário com a protagonista de uma forma superficial, a autora desenvolve a amizade de Ash com Mack. Ele é extremamente calado e na dele, ninguém sabe o que o fez chegar até ali. Mas por trás daquele corpo robusto há um cara compreensivo e doce, sendo o único que nunca abriu o conteúdo da foto.

Jennifer Brown – A autora

O desenvolvimento dos personagens secundários deixou um pouco a desejar. Gostaria de ter sabido mais sobre a vida de Mack e não que ela explicasse alguns pontos apenas no fim do livro. Vonnie e as amigas de Ash também são retratadas superficialmente e é assim que elas parecem: fúteis e superficiais. No entanto, gostei muito da relação entre Ashleigh e Mack. A autora não apostou em um romance que suprimisse o principal, o revenge porn, mas fez com que dali surgisse uma amizade importante para o reconhecimento e ressignificação da protagonista 

O mais doloroso é perceber como uma pessoa pode ter uma vida inteira de bom comportamento, mas em um segundo, por um deslize, toda a sua vivência é julgada e ela passa a ser reconhecida apenas pelo erro que cometeu. E mais ainda quando essa pessoa é uma mulher. Fica em evidência a sociedade machista que enfrentamos que impõe amarras quanto ao nosso corpo e não mede esforços de nos taxar de mil palavras. Sim, Ashleigh cometeu um erro, mas foi uma vítima, no entanto é tratada sempre como a culpada e irresponsável, quando o maior culpado foi o homem em quem ela confiou.

Outra coisa que deixou a desejar no livro, e talvez seja até intencional, foi a relação de Ash com os pais. Enquanto ela era uma filha prodígio, os pais a mimavam e morriam de orgulho. No momento em que a tempestade se formou e as consequências acabaram desestruturando a família, eles não buscaram reconhecer também como aquilo poderia ser difícil para a filha e se mostraram totalmente incompreensíveis e até insensíveis com a situação.

O livro traz um tema atual e polêmico, algo que sempre é feito pela Jennifer e com muita maestria. Apesar de ser o romance que menos gostei da autora, não deixa de ser importante a discussão que ele levanta, principalmente para os jovens. Ela mostra a necessidade de não julgarmos os outros sem conhecer a sua história e como devemos desenvolver a empatia e respeito. E mais: ela mostra como sempre há consequências para os nossos atos, mas que todos somos humanos e passíveis de errar, mas um único erro não nos limita e não representa toda nossa identidade.

Mil palavras é um livro crível, importante e fácil de ler. Recomendo

“Eu não era meus erros. Não era definida por mais ninguém. Apenas eu podia dizer quem eu era. E eu era…eu. Apenas Ashleigh”

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ISBN-13: 9788582354711 | ISBN-10: 8582354711 | Ano: 2018 | Páginas: 208 | Editora: Gutenberg

Jennifer Brown nasceu em Kansas, passou boa parte de sua vida no subúrbio, mas também morou em Nova Jersey, mesmo assim se considera totalmente uma garota do centro-oeste rural dos Estados Unidos. Ela diz que teve muitos amigos imaginários, o que pode ser bom, porque teve que se mudar muito e o conviver com amigos reais era difícil.
Ela se formou em Psicologia e conseguiu alguns trabalhos de Recursos Humanos, mas não demorou muito para ela perceber que essa não seria sua profissão.
O que é inusitado é que Jennifer apesar de ter escrito um livro tão intenso como A Lista Negra, na verdade ela escrevia colunas de humor para um jornal. Inclusive ganhou dois Erma Bombeck Global Humor Award (2005, 2006), mas deixou de ser colunista e agora se dedica em tempo integral para os livros jovem-adulto.

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