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O que aprendemos com Que Horas Ela Volta

Que Horas Ela Volta? não é só mais um filme nacional, e sim uma das maiores obras produzidas no Brasil. Dirigido por Anna Muylaert (que trabalhou em Xingu e Irmã Dulce), lançado em 2015 e com 96% de aprovação no Rotten. O drama nacional acumula notas altas, críticas positivas e fãs até hoje.

Conhecemos a Val (Regina Casé), uma pernambucana que foi para São Paulo trabalhar como babá do Fabinho (Michel Joelsas) em tempo integral porque queria dar melhores condições de vida a sua filha Jéssica (Camila Márdila). Anos depois Jéssica telefona para mãe dizendo que irá para São Paulo prestar vestibular, o mesmo que Fabinho. Os patrões de Val, Barbara (Karine Teles) e José Carlos (Lourenço Mutarelli), recebem a garota de braços abertos. Mas a situação começa a mudar quando Jéssica quebra regras criadas pela sociedade. E é graças a ela que aprendemos com esse filme.

  1. Temos preconceitos desconhecidos por nós mesmos!

Em vários momentos sentimos que a Jéssica é uma garota chata, metida e prepotente. Ela pode até ser tudo isso, porém não olhamos nela sua força em questionar “Quem disse que tenho que me comportar assim? Quem ditou as regras? Onde está o mapa pra eu queimar e traçar uma nova estrada?”

Jessica incomoda porque mostra nossos preconceitos que desconhecemos. Tem coragem de dizer que a filha da empregada não tem que se esconder, que não deve se comportar como um ser inferior restrito a uma área de circulação. O espaço dela não é nos fundos, na área de serviço.

Óbvio que existem regras de como Val e Jéssica deve se comportar. Elas não foram escritas ou ditas antes de Val começar a trabalhar lá, ou assim que Jéssica chegou. Elas já foram impostas e são cultivadas por ambos os lados. Jéssica vai ousando, nos incomodando e nos mostrando que colaboramos para que as regras continuem.

  1. A forma que segregamos pode não ser tão explícita!

Muitas vezes o preconceito não é manifesto de forma explícita. Às vezes coisas pequenas estão imensamente carregadas de discriminação. Um ótimo exemplo que pode passar despercebido é exatamente quando o filme está em uma cena entre 42:44 a 42:50. Barbara está na cozinha bebendo suco (isso não é spoiler!), após acordar e não encontrar Val.  Jessica chega, Barbara oferece a bebida e serve o suco em copo plástico enquanto ela bebe em copo de vidro.

  1. O ditado “Mãe é aquela que cria” está errado!

Assistindo o filme nos perguntamos se Val deixa de ser mãe da Jéssica porque não estava perto da filha durante mais de dez anos. Ela não tinha contato com a filha nem mesmo por telefone. Isso martela na nossa mente e nos questiona se ela tem o direito de ser chamada de mãe.

Jessica declara para Val que ela não é sua mãe, por não a ter criado. A maioria das pessoas vão apoiar Val por ver o sacrifício que ela passou e passa, sem perceber que discordaram de um ditado popular ouvido diversas vezes e até mesmo declarado por si próprio.

Bem ao lado temos Fabinho com um relacionamento afetivo com Barbara quase inexistente. Quando ele se sente mal conversa com Val, dorme na cama dela. Val é como declara o título dos Estados Unidos, “The Second Mother” do Fabinho. Porém Barbara trabalha e se dedica ao que faz não tendo tempo de conversar com o filho e busca se aproximar dele.

  1. A liberdade traz a felicidade!

Parece óbvio, mas com Que Horas Ela Volta? enxergamos o que está na nossa frente e ignoramos, ou fechamos os olhos e fingimos ignorar. O filme reflete a realidade brasileira, que apesar da relação empregada e patrões parece ser envolvida por um laço familiar ela é limitada. Existem barreiras maiores que regras de relacionamento e comportamento. Há limites que fazem as empregadas domésticas se sentirem inferiores e indignas de estar até mesmo no mesmo local entre os patrões.

Ser cordial é educação. Entrar em uma piscina quase vazia a noite e molhar os pés enquanto telefona pra filha é liberdade, uma ação simples que consequentemente trouxe o sorriso de um ser humano.

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