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Questionando os padrões em “Profissões para mulheres e outros artigos feministas” da Virginia Woolf

Se eu tinha alguma duvida sobre a influencia da Virginia Woolf na minha vida de literária, elas acabaram por completo depois da leitura desse livro.

Profissões para mulheres e outros artigos feministas reúne sete ensaios nos quais, munida de toda uma fundamentação teórica, ela questiona o posicionamento da mulher como “Anjo do Lar” e alerta sobre a importância do feminismo com textos claros, diretos que contra-argumentam a ideia patriarcal sobre o papel da mulher e expondo as dificuldades da inserção feminina no mundo profissional e intelectual da época.

Algumas pessoas podem achar que esses textos servem apenas como estudos que parametrizam épocas antigas, o que é um pensamento um tanto quanto inocente. É claro que esses ensaios foram escritos há muito tempo para pleitear posição da mulher em determinados períodos. Porém a leitura deles hoje propõe reflexões pertinentes, pois mesmo com o passar dos anos podemos afirmar que a visão da mulher como “Anjo do Lar” se dissipou? Ou que as mulheres não enfrentam dificuldades na área profissional, tendo que lidar com “fantasmas” e preconceitos?

A autora problematiza esses pontos nos seus artigos, mais precisamente em “A posição intelectual das mulheres”, onde ela discorda do posicionamento do escritor Arnold Bennett em sua coletânea “Nossa Mulheres: capítulos sobre a discórdia entre sexos” em que ele afirma com veemência que os homens têm capacidade intelectual muito superior a das mulheres, alegando que as moças e rapazes têm a mesma educação e oportunidade, mesmo assim não há nada de grandioso ou meramente notável criado por mulheres ao longo da História até aquela época.

O teor da abordagem da coletânea rendeu uma resenha escrita por Desmond MacCarthy sobe o pseudônimo de Falcão Afável onde ele também expõe sua visão míope sobre as questões femininas, o que deu origem a um debate fervoroso com Virginia.

O texto de Virginia contrapondo tais argumentos evidencia o domínio da autora sobre o assunto e mais uma vez a importância da desconstrução dos moldes que prendiam as mulheres (e que ainda prendem). Ela direciona o olhar para a importância da presença delas na literatura, nas artes, na ciência, etc., ou seja, a validação social feminina.
Separei aqui para ilustrar melhor minhas considerações, fragmentos de uma das respostas que Virginia enviou a Falcão Afável, só para vocês terem uma pequena amostra de como ela corroborou sua tese.

(…) Mas alega Falcão Afável, um grande espírito criativo superaria tais obstáculos. Pode apontar um único nome entre os grandes gênios da história que tenha surgido entre um povo privado de educação e mantido na submissão, como por exemplo, os irlandeses ou os judeus?(…) O fato, como penso que havemos de concordar, é que as mulheres, desde os primeiros tempos até o presente, tem dado à luz toda a população do universo. Essa atividade toma muito tempo e energia.

(…) Mas o que é necessário não é apenas a educação. É que as mulheres tenham liberdade de experiência, possam divergir dos homens sem receio e expressar claramente suas diferenças (…) pois para um homem ainda é muito mais fácil do que para mulheres dar a conhecer suas opiniões e vê-las respeitada. Não tenho dúvidas, que caso tais opiniões prevaleçam no futuro, continuaremos num estado de barbárie semicivilizada. Pelo menos é assim que defino a perpetuação do domínio de um lado e, do outro, da servilidade. Pois a degradação de ser escravo só se equipara à degradação de ser senhor.

Depois desse argumento desejei abraça-la e me peguei pensando: É Dona Virginia, de fato muita coisa mudou, mas outras parecem paradas no tempo, as visões míopes existem aos montes e essa “barbárie semicivilizada” ainda é uma realidade.

Por fim posso afirmar que essa é uma obra indispensável. Há uma equivocada demonização acerca do feminismo e o título pode até mesmo assustar, por isso é válido ressaltar que os artigos não trazem somente pensamentos considerados transgressores sobre as condições das mulheres no geral, eles tem base, referencias, propriedade e todo o refinamento da escrita de uma autora indiscutivelmente maravilhosa.

Apenas Leiam!

ISBN-13: 9788525426215 | ISBN-10: 8525426210 | Ano: 2012 | Páginas: 112 | Editora: L&PM Pocket

Vírginia Woolf: estreou na literatura em 1915 com um romance (The Voyage Out) e posteriormente teria realizado uma série de obras notáveis, as quais lhe valeriam o título de “a Proust inglesa”. Faleceu em 1941, tendo cometido suicídio. Virginia Woolf era filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário.
Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot. Virginia Woolf apresentava crises depressivas. Em 1941, deixou um bilhete para seu marido, Leonard Woolf, e para a irmã, Vanessa. Neste bilhete, ela se despede das pessoas que mais amara na vida, e se mata de forma triunfante.

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Baci ;*

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