Uma das coisas mais incríveis que acontecem quando iniciamos uma leitura é quando um livro dialoga com você de forma natural, já logo na primeira página ou conto, quando você se sente representada, quando cada personagem, cenário e expressão dita é familiar, trazendo uma sensação de pertencimento, sabe?! Foi assim que me senti ao ler “Redemoinho em dia quente” da Jarid Arraes.
A autora é bem conhecida por seus cordéis e poemas e uma voz bastante significativa na literatura contemporânea para mulheres negras e nordestinas. Ela é de Juazeiro do Norte, região do Cariri aqui no Ceará, meu estado amado e por todos esses motivos seu nome sempre aparecia na minha lista de leituras. E essa nossa estreia (dela no gênero conto e minha nos seus escritos) foi mais prazerosa do que pude imaginar.
Com o sertão cearense, um “sertão urbanizado”, como pano de fundo que ela conta nesse livro histórias sobre mulheres de todas as idades e formas, com uma vivência e uma linguagem tão próxima da minha que foi como se já tivesse ouvido ou vivido cada história.
Foi como se minha avó tivesse contando pra mim um história escandalosa e engraçada de uma “senhora católica que encontrou uma sacola com pílulas suspeitas e decidiu experimentar dizendo que elas a levava até o padre Cícero”. Foi como se eu ouvisse minha tia contar pra minha mãe “que a filha da coitada da lavadeira amiga dela, se envolveu com homem casado”. Foi como se eu visse minha vizinha tentar começar a trabalhar como “mototáxi enfrentando todo tipo de preconceito por ser uma ‘profissão de homem’”. Foi como se eu e minhas irmãs estivéssemos “arrumando a casa ao som de Mastruz com Leite” ou qualquer outra banda de ‘forró das antigas’. Foi como se a minha mãe comentasse em casa que “o marido horroroso da vizinha era violento com ela e não gostava até mesmo quando ela ia pra novena”. Foi como se eu me visse “reclamando do calor torturante e tentando me entender na minha própria loucura”.
Foi como se eu, Jarid e todas essa mulheres nos conhecêssemos, e por isso que essa foi mais que uma leitura, foi um encontro, um compartilhamento de memórias, de traumas e alegrias. Um abraço em forma de palavras.
E esse livro também me fez pensar bastante na questão da representatividade e na importância de romper com os estereótipos. Fazendo um paralelo rápido aqui com o livro da Chimamanda Ngozi Adichie, “O perigo de uma história única” (Companhia das Letras, 2019), que defende a importantância de se quebrar paradigmas, de contradizer estereótipos e que vejamos povos, coisas, lugares por uma outra ótica. E “Redemoinho em dia quente” propõe essa pluralidade, pois ao mesmo tempo que o regionalismo forte e as características próprias do nordeste faz o livro ser essa beleza que é, a autora busca questionar e contrapor muitas ideias que rotulam a mulher nordestina.
Maria Valéria Rezende na orelha do livro fala que “O leitor se surpreenderá com a originalidade e a fluência da voz que aqui, nestes contos, enfrenta e revela o emaranhado de contradições que cada um de nós carrega.” E não há descrição mais apropriada, pois Jarid Arraes sabe exatamente o quê e como contar cada história, cada palavra foi escrita com propriedade e sensibilidade que me deixou e vai deixar qualquer leitor encantado.
Recomendo!!!!
Onde Comprar: Amazon – Amazon Kindle – Submarino
ISBN-13: 9788556520890 | ISBN-10: 8556520898 | Ano: 2019 | Páginas: 130 | Editora: Alfaguara
{ Esse livro foi enviado pela editora Alfaguara para resenha no blog. Em compromisso com o leitor, sempre informamos toda forma de publicidade realizada pelo blog }
Aproveite para nos seguir nas redes sociais!