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[Resenha] Eu é um Outro de Hermes Bernardi Jr | Editora Edelbra

Sinopse: O autor criou um relato consistente e denso, por vezes fragmentado e dissolvido, que rompe seu silêncio na primeira sessão de terapia de Edu. No reservado do espaço, onde apenas seu terapeuta pode ouvi-lo, Eduardo solta seus pensamentos em profusão, em ordem desconexa, um turbilhão, muito comum nesta fase da vida, quando perguntas buscam respostas e algumas dúvidas naturais desejam ganhar forma de personalidade.

O autor inovou.

Quando li a orelha do livro e vi o nome “Rimbaud” escrito, fiquei empolgado e desejei começar logo a leitura. Seria muito bom reencontrar, quem sabe, o poeta maldito em meio a palavras novas. Hermes conseguiu chamar a minha atenção na primeira página. Gosto de autores ousados. Gosto de quem já me faz criar interesse antes de conhecer a história… Lembrem-se: a propaganda é a alma do negócio.

 

Nas primeiras páginas, tentei entender o que estava acontecendo. Parecia um diálogo-monólogo. Identifiquei-me. Quem nunca conversou consigo mesmo, em voz alta, pra achar uma solução perfeita pra algum problema? Isso acontece, corriqueiramente, comigo. Eduardo é um garoto como todos nós (mesmo que você seja uma garota). Ele tem problemas internos e conversa com quem lhe der ouvidos (por mais que esteja pagando pra isso)… hein?? Sim… Ele está conversando com um analista.

O que aconteceu de tão grave com o garoto?

De grave? Nada não… Este foi o primeiro caso de uma busca a um analista para tentar entender a dúvida do outro e não a sua própria. Por isso, adorei a metáfora do autor. Ele conseguiu escrever, exatamente, o que penso (muitas vezes). Sinto vontade de ir ao psicanalista pra entender o porquê de as pessoas não entenderem o óbvio. Eduardo, ou Edu, está caidinho por uma pessoa… Uma pessoa que tem compromisso. Qual o problema nisso? Pra ele, nenhum… Pros outros… Ah… Aí sim. Edu está tendo sentimentos por um garoto chamado Manon. Ele não vê nada de estranho… Mas os outros veriam.

O que os seus pais pensariam a respeito disso? O que o pessoal da escola pensaria a respeito disso? O que a sua melhor amiga pensaria a respeito disso? E, talvez, o pior: o que a namorada do Manon pensaria a respeito disso? O livro, ainda que curto, conta como foi essa sessão com o analista. Edu tentou contar todos os últimos acontecimentos e o que se passava, em sua cabeça, naqueles momentos. Há uma imersão no mundo masculino (com jogos de futebol, porrada…), há um leve teor de sexismo (por parte da namorada) e há, enfim, o ponto alto do machismo… Dentro do banheiro do estádio, só porque estava com a camisa do time adversário, ele é espancado e chamado de “viado”.

Será que eles perceberam? Não… É só que ser “viado”, para muitos, é algo ruim… Negativo. Então, mesmo que não se seja, ser chamado assim é a forma mais atrativa de tentar destruir a sua masculinidade. Ora bolas… Que mundo é esse?

“Eu é um Outro” me fez viajar bastante em pensamentos diversos e me fez compreender, ainda mais, que a homossexualidade pode ser encarada de uma maneira tão simples e romântica quanto a própria heterossexualidade. Não sei se essa foi a intenção do autor, mas tenho a certeza que esta foi a intenção que captei. E, como professor de Literatura, deixo claro que quem manda na obra é o leitor.

Obrigado, Hermes Bernardi Jr., mas a sua obra, a partir de agora, é minha também.

Edição: 1 | Editora: Edelbra | ISBN: 9788566470598 |Ano: 2014  |Páginas: 80

Comprar: Site da Editora 

Hermes Bernardi Jr é escritor e ilustrador com mais de vinte títulos publicados para crianças. Teve livros indicados ao Prêmio Jabuti de Literatura e foi vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura 2013, na Categoria Infantil, com o livro Conchas, editado pela Edelbra. Desenvolve sua pesquisa com papéis e rasgaduras no Atelier Livre Xico Stockinger da Prefeitura da cidade de Porto Alegre (RS).

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