Sinopse: De um lado, temos a história contada pelo escriba, Abul Qacem, narrando o auge e a queda de Gharnata para os reis católicos. Essa história é entremeada por um tórrido e proibido romance que o escriba vive com a sultana Aisha, esposa do rei de Gharnata. Tal romance será tanto motivo de glória como de tragédia para o escriba.
Do outro, temos Jorge, um funcionário público brasileiro que vive seus dias sem propósito, apenas criticando e julgando comunistas, homossexuais, muçulmanos e negros. Jorge tem um segredo que não revela a ninguém.
Na tentativa de compreender esse segredo, ele inicia uma empreitada que revelará muito mais do que ele sonha encontrar. Duas histórias paralelas com um ponto em comum.
Leia, descubra e se deixe tomar pelo caleidoscópio de emoções.
“Sem saber como, a cidade estava linda como sempre. Mas as sedas coloridas, as flores, a feição vivaz da cidade tinham desaparecido”
Quando comecei a ler, acreditei que estava me deparando com mais uma daquelas histórias repetitivas tais quais “O Livreiro de Kabul”, “O Caçador de Pipas”… Porém, ao perceber o crescimento da história, já me via, incrivelmente, envolvido e louco para saber como o Gilberto Abrão iria conseguir juntar peças o suficiente para explicar uma suposta ligação entre um “joão-ninguém” no Brasil da década de 60 e um Mestre Muçulmano do século XVI.
O que você faria se, ao abrir um livro, visse estampado, logo nos primeiros capítulos, várias discussões atuais em um tema que você nunca pensou que veria? Obviamente, terminaria o livro o quanto antes, certo? Foi, exatamente, o que fiz. Nas primeiras páginas, deparei-me com discussões em volta da pedofilia, da homossexualidade e do surgimento de um homofóbico por anseios internos de não compreender a sua necessidade em aceitar os seus dois lados. O autor nos dá uma explicação lógica sobre como surgem esses seres violentos e abusivos… E como você acha que é?
Querido leitor, você teria pena se soubesse que muitos dos vilões da histórica ditadura militar foram molestados, sexualmente, e, por isso, agiram de tão bárbara forma? Pois é… O Gilberto, em seu magnífico livro, não tenta justificar os atos vândalos dos aderentes ao fascismo, mas tenta, de uma forma sublime, enraizar o fato de que a ditadura, por parte do povo, por muitas vezes, foi uma luta de vingança contra um eu-interior que gritava por uma saída por não se aceitar existente.
Esta é a história de Jorge Xavier. Um homem abandonado, em sua infância, pelos seus pais (filho de dona de cabaré com pai espanhol desaparecido) que foi estuprado por um padre durante o tempo em que ficou no internato. Após crescer, viveu a sua fase adulta ao lado da mãe e dos seus próprios medos e preconceitos. Sentia vontade de se relacionar com homens, mas tentava, de todas as formas, manter a sua “moral” e compenetrava-se em seguir os exemplos machistas dos demais. Então, a história faz uma viagem e leva-nos ao futuro, quando o próprio Jorge, já envelhecido, se encontra com um sábio catedrático espanhol que lhe apresenta os escritos de um Mestre Muçulmano.
A partir de então, as duas histórias são contadas em paralelo. E eu me perguntava o tempo inteiro qual era a ligação entre essas duas pessoas. Por que mostrar, com tanto ímpeto, essas pessoas? Do lado de cá, um Brasil execrável pelo poder do fascismo de direita, com mortes, torturas e muito mais jogo político do que se pode imaginar… Do lado de lá, uma guerra santa com divisas entre nomenclaturas e muita exposição da cultura moura. Jorge, com os seus preceitos, brinca com o poder e manda pra cadeia diversos homossexuais e comunistas; enquanto o sultão muçulmano manda para o mundo dos mortos aqueles que vão de encontro aos seus ideais.
A palavra-chave para o conteúdo deste riquíssimo livro histórico-cultural é divergência. Ler estas páginas e não se sentir convidado a terminá-las na mesma sentada é quase impossível (salvo quando, realmente, você está sem tempo). Convido a todos os leitores a se digladiarem com a vontade de parar e chegarem a uma conclusão…
O que ligaria um jovem fascista brasileiro e um mestre muçulmano?
Edição: 1 | Editora: Companhia Editora Nacional | ISBN: 9788504018851 | Ano: 2014 | Páginas: 360
Nota:
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Opa! Carinha nova no blog!
Gostei do post e transmitiu de verdade sua vontade pelo texto.
Fiquei até curiosa para saber que relação teria um brasileiro e um mestre muçulmano.
Interessante! Fiquei curiosa…
Fico feliz que tenham gostado. Indico o livro de uma forma intrigante para que possam perceber a riqueza dele. Se já estão curiosos sem ter lido as primeiras páginas, fico imaginando o que acontecerá com as suas mentes quando começarem a ler.
Um grande abraço a todos.