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[Resenha] Porque vocês são pobres de William T. Volmann | @ConradEditora

Porque vocês são pobres de William T. Volmann
Edição: 1
Editora: Conrad
ISBN: 9788576163862
Ano: 2010
Páginas: 448
Tradutor: Michele de Aguiar Vartul

Saraiva Por R$ 56,00 | Submarino Por 56,00

Sinopse: Entre 1992 e 2005, o jornalista e escritor norte-americano William T. Vollmann percorreu diversos países em busca de uma resposta para a simples e enfática pergunta: Por que você é pobre?. Numa mescla de literatura de viagem e ensaio, Por Que Vocês São Pobres? permite aos pobres – objetos de tantas análises sociológicas, políticas e antropológicas – responderem por si mesmos e explicarem, com seus próprios jargões culturais, sociais e religiosos, as causas e as consequências da situação em que vivem. 
Uma mãe alcoólatra tailandesa e budista, certa de que sua pobreza é um castigo por transgressões cometidas em vidas passadas, e sua filha de 10 anos, cuja fé inocente lhe diz que seu único pecado de outras vidas foi ter sido rica. Um russo discriminado por ter sido enviado para trabalhar em Chernobyl e que emite mais radiação do que máquinas de raios X. Big Mountain e Little Mountain, dois salarymen japoneses que subitamente perderam seus empregos e agora vivem embaixo de uma ponte em Kyoto. Uma mendiga e ex-professora no Afeganistão do Talibã que pede esmolas a seus antigos alunos com o rosto coberto por uma burca, invisível à cegueira voluntária dos transeuntes. Habitantes vizinhos a uma refinaria de petróleo no Cazaquistão que sofrem de anemia causada pelo enxofre expelido. Imigrantes chineses transportados ilegalmente para o Japão por uma máfia chinesa que tortura e assassina seus devedores. 

Existem livros que caem em nossas mãos sem qualquer aviso prévio. Não os procurávamos, não nos interessavam; nunca nem sequer ouvíramos falar deles e cá estão, em nossas mãos, esperando para serem consumidos. Foi o que aconteceu no meu aniversário, quando minha esposa chegou com um embrulho de presente e me deparei, dentro dele, com um título extremamente conhecido e, o outro, um destes peculiares exemplares que nunca vira antes na minha vida.

O primeiro, o Manifesto do Partido Comunista, foi-me dado para que eu o pudesse ter (e reler). Já conhecia muito bem seu conteúdo e, por ser de rápida leitura e estar interessado em rever alguns pontos, separei os dois primeiros dias para lê-lo. Já o segundo decidi guardar por mais alguns dias, pois era muito curioso. Sua capa trazia em grandes letras uma única pergunta: Por que vocês são pobres?, acompanhado do nome do autor, Willian T. Vollmann.

2013-10-06 16.28.32

A pergunta em destaque não era feita ao leitor, como afirmará Vollmann ao final da obra, pois este acredita que se você tem condições financeiras o suficiente para adquirir um exemplar de seu livro significa que é rico (pelo menos se comparado aos indivíduos que irão ser detalhados nestas curiosas páginas). A questão é levada pelo autor a vários cantos do mundo e direcionada para que o próprio pobre explique-se, justifique sua situação. Neste contexto, conheceremos cenários exóticos, extremamente distintos, realidades que nem de perto se aproximam de nós ao mesmo tempo em que veremos situações que qualquer brasileiro pode se deparar na rua ou conhecer pessoas que acreditaríamos ser estranhas se tornando próximas como irmãos.

Primeiramente concluí que talvez fosse mais um livro de entrevistas, permeado de teorias, citações e estudos; um verdadeiro trabalho acadêmico. No entanto, Vollmann transcorre o livro com uma narração precisa e chamativa. Por que vocês são pobres? não é só um livro de trabalho empírico, ele quase se assemelha a um romance. Talvez um roteiro a la Tarantino, sem ordem cronológica, dando início num determinado tempo, voltando atrás até o mesmo ponto, saltando para o final… E, como em Pulp Fiction, esta se torna uma interessante ferramenta para explicar determinado assunto. É incrível como, cem páginas depois, Vollmann traz de novo uma única citação de um indivíduo e a insere num timing de tamanha perfeição que traz à memória do leitor o personagem a quem se referia e, desta forma, lhe explica em poucas palavras toda uma situação ou um conceito. O temor de um livro lotado de teorias e divagações desaparece em meio à narrativa das vidas daquelas pessoas; se há citações de Thoreau, Adam Smith ou Marx é porque o hábito do autor toma à força seu trabalho de ser impessoal e, mesmo quando isso ocorre, é para que a prática confronte a teoria. Vollmann não é um simples estudioso de gabinete, é um homem que largou uma vida de juventude para viver no conflituoso Afeganistão dos anos 80. Daí para este trabalho em escala mundial foi só um passo.

A história em si não irá além disso; a descoberta de pessoas vivendo em condições extremas e o questionamento sobre suas vidas. A riqueza de informações que saltam destas experiências, no entanto, são inesgotáveis. Ele começa com uma tailandesa alcóolatra. Sendo a primeira, ela servirá de base para todo o resto do livro (esta é uma matemática interessante na obra – a cada novo personagem apresentado, uma determinada frase deste, um conceito sobre sua vida ou uma atitude sua continuarão se prolongando para agregar no personagem seguinte. O resultado disto, na última página do livro, é fantástico!). A primeira resposta que temos, então, para o título do livro é o carma; ela cometera graves faltas na vida passada e agora está nessa situação. Daí em diante teremos duas mendigas russas, uma que se considera nesta situação por sua doença e a outra por culpa do governo. Conheceremos um ex-trabalhador da União Soviética que por trabalhar nos escombros de Chernobyl emana mais radiação que uma máquina de raio-X. Dois empresários japoneses que vivem em caixas de papelão debaixo da ponte. Uma comunidade inteira do Cazaquistão que não fala com ninguém por temer que a petrolífera os elimine se eles contarem que estão morrendo com a exposição ao enxofre. Uma ex-professora do Afeganistão que nada tem e também não pode mendigar por ser mulher. Chineses transportados para dentro do Japão pela máfia local. Moradores das favelas colombianas e, por fim, um relato dos próprios mendigos dos Estados Unidos. Cada experiência agregando uma informação à próxima de forma que o leitor não acabe com respostas, mas com instrumentos para criar novas perguntas. Por que vocês são pobres? tem a humilde proposta de não concluir nada, mas lhe dar argumentos para se aprofundar ainda mais na questão.

Se alguém tenta tirar algo de suas páginas, no máximo chegará à mesma conclusão difusa do mexicano morador de rua: o dinheiro vai para onde vai.

Uma excelente dica para quem se interessa por conceitos sociais ou admira documentários sobre lugares distantes do mundo. Além de ser uma viagem admirável, Por que vocês são pobres? é uma lição para quem não percebe que o mundo não é só a confortável vida que levamos.

(Vale acrescentar que o livro vem acompanhado de mais de uma centena de fotos tiradas por Vollmann das pessoas que ele entrevistou e dos locais por onde passou, dando solidez à imagem que iremos fazer daqueles descritos no livro)

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