“I’m living for today on a giant piece of dirt spinning in the universe mas singularidade não era o que eu queria, eu queria fazer parte de tudo.”
Estreando no gênero romance, Natalia Borges Polesso, autora vencedora do Jabuti na categoria contos, nos agracia com o livro Controle, lançado esse ano pela Companhia das Letras.
Em Controle, acompanhamos a trajetória de Maria Fernanda que descobre ser epilética ainda na infância, após uma queda de bicicleta. Depois disso sua vida muda de forma súbita, obrigando-a a lidar com todas as consequências que o transtorno trouxe consigo. Ela se resigna tanto a essa nova condição que acaba pautando sua vida nisso e moldando sua personalidade inteira com base no transtorno.
Controle é a palavra que permeia toda a vida de Nanda de diversas maneiras.
Ela tinha controle de sua bicicleta antes da queda. Depois passou a buscar controlar suas crises. Vivia sob o controle e proteção dos pais. E de certa forma os controlava usando o seu transtorno. E como se não bastasse, controlava seus sentimentos pela melhor amiga, Joana, seu desejo, sua sexualidade.
A bem da verdade é que a personagem é uma grande contradição, pois ao mesmo tempo que se anula, sente uma inquietação, uma vontade de viver, mas Nanda não soube como “entrar na vida” e acabou se isolando, se refugiando nas músicas da banda New Order, e tornando seus fones de ouvido “fortalezas impermeáveis” que a separava do restante do mundo.
Em meio a toda essas crises epiléticas e existencial, Nanda parece está em constante queda, literal e metaforicamente. Além do episódio em que ela cai da bicicleta, há outro semelhante e eles definem dois momentos importantes para ela. O primeiro funciona como uma espécie de punição, no qual ela se vê como alguém que só está passando pela vida. E o segundo funciona quase como uma redenção, onde ela (re)descobre a vontade de viver.
Natalia Borges Polesso consegue de forma sutil, apesar de tratar de temas traumáticos, contar uma história complexa, com uma personagem confusa, incompleta e inconstante, mas sensível e humana.
A narrativa em primeira pessoa faz o leitor imergir em toda a melancolia da história e acaba por aproximar um pouco mais das sensações de Nanda. As referências culturais, mais precisamente a musical, é outro fator que aproxima o leitor. Eu particularmente não conhecia New Order, mas foi fácil reconhecer a sensação de escutar músicas que parecem nos descrever, de que foram feitas para nós, sabe?!
Controle é um livro sobre solidão, sobre a inércia de quem passou a vida toda à margem, de quem não soube se inserir, insurgir. Mas é também um livro sobre busca, sobre redescobertas, sobre resgate de si própria.
“Eu nunca escolhi morrer.
Era pavor da vida tão complexa, tão completa. Eu não consegui entrar na vida. Fiquei de fora olhando os eventos pela janela, num aquário impossível ao lado do mar. Marcando presença e não aparecendo. Marcando presença e desaparecendo. Assisti às coisas todas. Meio boba. Quando deveria ter sido protagonista, desapareci pra comer pipoca murcha na plateia de um filme tosco, de quinta. Não que eu quisesse, eu não conseguia tomar as rédeas. Se é que essa é a melhor comparação.
Eu sempre quis muito viver.
Foi medo. Foi falta de prática, foi falta de manha. Foi tanta coisa a menos.”
Recomendo!
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ISBN: 978-85-473-3076-7 | Ano da edição: 2019 | Data de publicação: 13/05/2019 | Número de páginas: 203
NATALIA BORGES POLESSO É doutora em teoria da literatura. Publicou Recortes para álbum de fotografia sem gente (2013), Coração à corda (2015), Pé atrás (2018) e Amora (2015), livro vencedor do Prêmio Jabuti 2016, em que explora as nuances das relações homoafetivas entre mulheres. Em 2017, foi selecionada para a coletânea chilena Bogotá39. A autora tem seu trabalho traduzido para o inglês e o espanhol e sua obra está publicada em diversos países.
{ Esse livro foi enviado pela Editora Companhia das Letras para resenha no blog e esta postagem é um post pago.Em compromisso com o leitor, sempre informamos toda forma de publicidade realizada pelo blog }
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