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Galveston: aquele livro que é bom, mas te deixa triste

Vocês já foram atrás de um livro por intuição?

Meio que você está lá zapeando pela internet e aí POW. Você olha para a capa, não sabe nada sobre o livro, apenas tem certeza que precisa ler aquela obra. Em poucas palavras, esta é minha história com Galveston, de Nic Pizzolatto (Intrínseca, 2015).

Assim, também preciso dizer que outra coisa me deixou curioso com o livro: o fato de Pizzolatto ser cocriador da série True Detective, da HBO – e se você não viu essa série, por favor, tome vergonha na cara. É a prova de que estamos vivendo a “era de ouro” dos seriados.

Apesar de tudo isso, foi minha intuição que me levou ao Galveston.

O livro é, basicamente, a história de Roy Cady, um cara apelidado de Big Country que sofre uma tentativa de ser eliminado por seu próprio chefe. Após anos servindo como cobrador – uma espécie de misto de capanga e matador de aluguel –, ele é enviado para pressionar uma pessoa, sob o aviso de que devia ir desarmado, mas ao chegar lá é atacado por uns caras que o estavam esperando. Claro que os anos de profissão haviam solidificado uma intuição nata de sobrevivência em Roy. Ele contava com um sistema de faca dentro da manga. Quando os caras que o pegaram menos esperavam, ele matou um esfaqueado, roubou sua arma e atirou nos outros. Acabou verificando que havia, além do sujeito que ele devia cobrar, uma mulher morta e uma garota viva, ambas prostitutas. Na fuga, acabou levando a garota, Rocky, consigo. O pior é que isso tudo aconteceu justo no dia que ele descobriu que estava com câncer no pulmão.

A partir daí, a narrativa se torna um jogo de caça e rato, alternando trechos do acontecimento em 1987 e no presente, em 2008. É justamente nesta ruptura que acontece o suspense da trama, na forma como o escritor vai construindo a história. E claro, tudo narrado com o “lirismo bruto” de Roy Cady, um brutamontes absolutamente melancólico com o rumo que sua vida tomou e a forma como está pronto a ser descartado. Contudo, ao travar amizade com Rocky, forçado pelas circunstâncias, ele acaba vendo na garota a possibilidade de ajudar alguém – embora isso não seja verbalizado.

Eis um trecho de diálogo que exemplifica esta relação:

“- O passado não é real.

– O quê?

– Diga isso a si mesma. O passado não é real. É apenas uma daquelas ideias que você tem e pensa que é real. O passa não existe, garota.

Ela franziu a testa e sua pequena boca estava aberta, sem produzir som algum.

– Tudo começa agora. É isso aí. Agora mesmo.” (pg. 204)

Então, voltando àquele papo de intuição lá do começo. Valeu à pena ter ouvido a minha. Em Galveston, o Nic Pizzolatto acertou muito bem a mão. Este é o primeiro romance do cara, e eu mal posso esperar pelos próximos. Acho difícil escrever qualquer coisa em que você tenha algo muito bem feito na questão estilística ao mesmo tempo que a história prenda a leitura, ou seja, que exista um enredo atraente.

Galveston é exatamente assim, um livro muito equilibrado. Muito bom, mas te deixa triste. Acho que “bucólico”é a melhor palavra.

ISBN-13: 9788580576504 | ISBN-10: 8580576504 | Ano: 2015 | Páginas: 240

Sinopse: No mesmo dia em que é diagnosticado com uma doença terminal, Roy Cady pressente que o chefe, um agiota e dono de bar que é o mandachuva em Nova Orleans, quer vê-lo morto. Conhecido entre os membros da gangue pelo nada afetuoso apelido de Big Country, por causa do cabelo comprido e das botas de caubói, Roy desconfia de que o serviço de rotina para o qual foi enviado possa ser uma emboscada. E de fato é. Mas consegue inverter os papéis e, após um banho de sangue, escapa ileso. Além de Roy, só há mais uma pessoa viva no local, uma mulher, e num ato impensado ele aponta uma arma para a cabeça dela e a leva consigo na fuga em direção à cidade de Galveston – uma decisão imprudente e sem volta. A mulher, uma prostituta de 18 anos chamada Rocky, é jovem demais, durona demais, sexy demais – e certamente trará para Roy problemas demais.

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