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Infância, honra e heroísmo em “Os meninos da Rua Paulo” de Ferenc Molnár

“(…)já não se assustavam tão facilmente. Na verdadeira guerra, com soldados de verdade, dá-se o mesmo. Enquanto não veem o inimigo, têm medo até das moitas do caminho. Mas quando as primeiras balas lhes passam, assobiando, perto do ouvido, criam coragem, sentem-se como que embriagados e esquecem que estão correndo para morte.”

Narrando o confronto épico entre dois grupos de meninos, ambientado em um país bem distante, a Hungria, e usando como referência fatos e personagens histórico, temos Os meninos da rua Paulo, escrito por Ferenc Molnár em 1906.

Na trama somos agraciados pelas aventuras de Boka, Csele, Csónakos, Kende, Kolnay, Weiss, Barabás, Géreb e Nemecsek, que se reúnem sempre no mesmo grund, para jogar pela. O lugar situado na Rua Paulo, é para esses meninos uma espécie de terreno militar em que eles ocupam e zelam. Há então um outro grupo, intitulado de Camisas-vermelhas, liderado pelo temido Chico Áts que têm interesse em enxotar os meninos da Rua Paulo, tomando posse do grund.
A partir daí, começa uma grande disputa territorial entre esses dois grupos, semelhante (e tão altivamente articulada) a uma guerra de fato. Essa “guerra”, tem um sentido infantilizado, é claro, mas que não se banaliza, pois a luta deles é tão engrandecedora quanto as que foram escritas para os adultos.

A construção dos personagens, sobretudo, Boka (o líder dos meninos) e Nemecsek (o soldado raso, tido com o “café-com-leite” da turma) é sensacional. Todos os defensores do grund tem uma grande relevância na história, mas Boka e Nemcsek são aqueles que ascendem e dão o tom nobre e honroso que a história tem. A postura calma, respeitosa e inteligente faz de Boka o personagem no qual a integridade sempre se destaca. Ele muito querido, não só pelos meninos do grund, mas pelos leitores também. Porém não é a ele a que se deve a grandeza da história. Nemecsek, o loirinho atrapalhado e franzino e que nunca é levado a sério pelos outros meninos, é a verdadeira personificação da lealdade de um bom soldado. E pra mim é o verdadeiro herói do livro.

Eu creio que em algum momento da vida, todos nós já tenhamos lido ou pelo menos ouvido falar. Eu mesma, já fui diversas vezes induzida a ler esse livro, mas só agora o fiz. E mesmo lamentando não ter lido antes, valeu a pena cada surpresa, encanto, frustração, alegria e tristeza.

Apesar de ser um clássico da literatura mundial, é originalmente direcionado para o público infanto-juvenil. E é quase universalmente falado que os clássicos nos são incutidos forçadamente, ainda na escola. A linguagem rebuscada predominante nas obras, distância os leitores jovens e rotula-os como enfadonhos. E Os meninos da Rua Paulo se põe justamente a quebrar esse paradigma. Como bem observa o tradutor, Paulo Rónai, são poucos os livros clássicos voltados para os jovens e crianças. O que normalmente se faz é adaptar os que foram escritos para adultos. A bem da verdade, é que essa escassez desse tipo de livro voltados para os jovens, ou a escassez do incentivo (o que é bem mais grave), é que dificulta o hábito de leitura.

Em suma, o que Molnár propõe em Os meninos da Rua Paulo é que mesmo se tratando de uma disputa infantil por um terreno baldio, a história abre muitas reflexões acerca dos valores criados ainda na infância – inocência, lealdade, traição, honra e, mais fortemente sobre o que configura “heroísmo” – e que perpetuam a vida toda. E o mais legal é que pode-se lê-lo em qualquer idade. Talvez para crianças ele seja uma importante referência para formação de caráter e para os adultos funcione com uma análise reafirmando os valores adquiridos na juventude.

Livros assim não podem nunca cair no esquecimento e também não podem deixar de estar acessíveis aos leitores, não é mesmo?! Por isso a Companhia das Letras o pôs no seu catálogo de 2017. A edição (lindíssima, diga-se de passagem) tem tradução, prefácio e notas de Paulo Rónai e conta com mais dois textos de apoio, por Nelson Ascher e Michel Laub.

Os meninos da Rua Paulo é um livro sensível, simples ao mesmo tempo grandioso em sua mensagem e por isso o recomendo sem hesitar.

Boa leitura!

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ISBN-13: 9788535928464 | ISBN-10: 8535928464 | Ano: 2017 | Páginas: 280 |Editora: Companhia das Letras

Ferenc Neumann nasceu na Hungria, em 1878, em uma família judia de classe média. Conforme as leis do Império Austro-Húngaro, que pretendiam aclimatar a população judaica na sociedade, teve seu sobrenome traduzido para o magiar, o idioma húngaro. Assim, Neumann transformou-se em Molnár, “moleiro”. Aos vinte anos já publicava contos e romances, e teve diversas peças de teatro encenadas em toda a Europa. Entre suas principais obras estão a peça Lilion (1909), adaptada para o cinema por Fritz Lang em 1933, e Os meninos da rua Paulo, levado às telas três vezes: em 1929, num filme mudo de Béla Balogh; em 1969, com Essa rua é nossa, de Zóltan Fábri; e em 2003, num filme para a TV italiana de Maurizio Zaccaro. A ascensão do nazismo obrigou Molnár a se exilar nos Estados Unidos, em 1939. Morreu em Nova York, em 1952, sem ter voltado à Europa. Escreveu a peça de teatro Egy, kettö, három que foi adaptada para o cinema em 1961 por Billy Wilder (One, Two, Three).

{ Esse livro foi enviado pela editora Companhia das Letras. para resenha no blog. Em compromisso com o leitor, sempre informamos toda forma de publicidade realizada pelo blog

Baci ;*

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