Søren Kierkegaard foi um filósofo e teólogo dinamarquês, considerado o pai do existencialismo. Kierkegaard, enquando autor empírico, destacou-se pela sua criação de pseudônimos para explorar pontos de vista em particular, em profundidade, o que acarretou algumas das vezes livros inteiros assinados por escritores fictícios como Johannes de Silentio, Constantin Constantino e Johannes Clímacus.
E, na realidade, é sobre Johannes Clímacus, o pseudônimo filosofico de Kierkegaard, que pretendo dialogar com vocês.
Um tema recorrente na filosofia, desde Pìrro de Élis (360-275 a.C), é a questão do ceticismo: sistema teórico que refuta concepções absolutas de verdade e mentira alegando que a certeza do conhecimento é impossível. Ou seja, os meios que dispomos atualmente, não são suficientes para identificar verdade alguma onde quer que seja.
Para elucidar e trabalhar com os conceitos estabelecidos no ceticismo, Climacus percebe que, se existem informações que podem constituir um conhecimento verdadeiro, elas estão inclusas ou em dados históricos, ou em verdades eternas. Contudo, ele problematiza as vias que sugeriu atribuindo quatro impossibilidades:
- Todos os enunciados históricos são apenas prováveis e poderiam ser falsos, afinal nenhuma demonstração necessária pode ser dada;
- O fato de serem históricos mostra que em algum ponto eles não foram verdadeiros, pois se sempre fossem seriam verdades eternas;
- O conhecimento eterno trata de essências, não de existências. Tudo o que nos diz é que se certos objetos existem, eles devem ter certas propriedades e relações. Mas, se esses objetos existem ou não, é uma questão histórica e não eterna;
- Todo suposto conhecimento é informação histórica, mesmo que lide com conceitos. Pois todo conhecimento é pensamento de alguém e compõe nossa biografia intelectual.
Para Climaccus, toda busca por conhecimento constituído de verdades é vã, pois podemos encontrar fundamentos, mas nunca as coisas mesmas e esses fundamentos, no entanto, não nos servem de nada.
Para alcançar algum conhecimento verdadeiro é necessário que haja dois milagres:
- Uma verdade existencial: uma proposição histórica incapaz de ser falsa ou uma proposição eterna que trate de existência.
- A possibilidade de reconhece-la como tal: não apenas como informação histórica sobre nós mesmos.
Frente ao problema desesperador de não conseguir alcançar verdade alguma pelos meios racionais, Climaccus sugere duas resoluções: duvidar de tudo e crer em alguma coisa, de modo que crer e acreditar são coisas distintas. Eu acredito naquilo que pode ser demonstrador e, de fato, constitui uma verdade; enquanto eu creio naquilo que é impossível e que não possui dados que comprovem sua legitimidade. Considerando o problema da incapacidade intelectual do homem, ele “acredita” no impossível e por isso crê. Se a crença corresponde ao que de fato é, só é verdadeiro por um milagre.
Parabéns! Ótimo texto.