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O Ministério da Felicidade Absoluta, Arundhati Roy

“Não importa, eu sou Romi e Juli, sou Laila e Mujna. E Mujna, por que não? Quem disse que meu nome é Anjum? Não sou Anjum, sou Anjuman. Sou mehfil, sou uma reunião. De todos e de ninguém, de tudo e de nada. Tem mais alguém que queira convidar? Todo mundo está convidado”.

É exatamente isso que esse livro é, uma reunião. Uma reunião de histórias duras, de conflitos internos que espelham e se chocam com a etnia e a política de um país dilacerado.

Mas antes de contar minha experiência de leitura com esse livro incrível, eu preciso falar um pouco da própria autora, a Arundhati Roy, que tem uma história tão incrível quanto a de seus personagens.

Arundhati é uma renomada escritora indiana, nasceu ali na região oriental da Índia. Ela é ativista ecológica, dos direitos humanos e também anti-globalização da Índia. Estudou Arquitetura em Nova Delhi e começou uma carreira no Cinema como Designer de Produção. Trabalhava na TV em projetos sobre o movimento de independência da Índia, mas se decepcionou com o mundo da TV e do Cinema e começou a escrever. O seu primeiro romance, O Deus das pequenas coisas (1997), traduzido para mais de quarenta línguas, teve bastante impacto e impulsionou sua carreira literária. No mesmo ano ela ganhou o The Man Booker Prize por esse livro, tornando-se a primeira indiana a receber o prêmio. O dinheiro da premiação foi doado para um movimento social.

A partir daí ela publicou diversos ensaios políticos e outros livros de não-ficção falando abertamente sobre questões espinhosas no país. Por conta dessa trajetória no ativismo político ela chegou até a ser presa e coleciona um histórico de ameaças de morte e perseguição extenso. Só agora, após 20 anos, ela lança seu segundo romance, O Ministério da Felicidade Absoluta, publicado aqui pela Companhia das Letras, e que está tendo bastante destaque lá fora. Inclusive foi um dos finalistas do The Man Booker Prize de 2017. (O resultado da premiação saiu na terça-feira dia 17 de outubro, o ganhador foi o George Saunders com o livro Lincoln in the Bardo, que será lançado aqui no Brasil também pela Companhia das Letras em 2018).

Com o livro O Deus das pequenas coisas Arundhati Roy deu voz e visibilidade questões consideradas tabus na Índia, como o sistema de Castas. Propondo debater também sobre o infanticídio feminino e a desumanização do Dalit (casta de pessoas tidas como “impuras”). Ela busca trazer novamente em seu novo romance a atenção para isso, para as pessoas excluídas, as que foram “jogadas fora” ou “empurrados para fora”. Pessoas que mesmo assim encontram felicidade nos lugares mais estranhos e inesperados, por mais frágil que seja, sobretudo como é custoso esses instantes de felicidade.

Agora falando precisamente do livro. No início nós conhecemos a história de Aftab, nascido menino e bastante celebrado por essa “condição”. Com o passar dos dias a mãe dele descobre que ele é na verdade hermafrodita, e apavorada resolve esconder do pai e da sociedade. Mais tarde, o próprio Aftab reconhece que a sua identificação é maior com o “mundo feminino” e se rebatiza de Anjum. Ela é então adotada por uma comunidade Hijra (esse é o nome dado à casta dos transgêneros, hermafroditas e travestis na Índia). Para agravar a marginalidade de sua posição social, Anjum é muçulmana e fala somente urdu, idioma

desprezado pela maioria hindu, que sitia a população islâmica do país como num cerco de guerra.

Certo dia, já adulta Anjum encontra uma criança abandonada na rua, que traz um lampejo de redenção em meio a tanta desesperança. Depois de alguns confrontos e decepções ela passa a morar num terreninho dentro de um cemitério semi abandonado, onde constrói uma espécie de pensão, a Hospedaria Jannat.

Paralelamente, conhecemos Tilo, uma arquiteta procurada pela polícia por ser amante de um líder do separatismo islâmico da Caxemira. Ironicamente ela morava num sobrado alugado de um alto funcionário do serviço de inteligência do governo. Depois de vários acontecimentos bizarros, muda-se para a Hospedaria Jannat cruzando seu caminho com o de Anjum.

Ligados à elas, ainda temos Saddam Hussein um dalit que depois de ver o vídeo de execução do verdadeiro Saddam Hussein, nutre uma estranha “admiração” por ele e adota seu nome. E também temos Musa, o tal amante de Tilo, que lidera um movimento rebelde que luta pela independência da Caxemira.

Mas talvez o “personagem” mais importante, digamos assim, venha a ser a própria Índia. Digo isso porque a autora não se limita a contar apenas a história da Anjum e suas hijras, ou da Tilo em meio as fugas com Musa. Ela conta a história de um povo, de uma Caxemira devastada pela guerra que já dura mais de 20 anos.

A autora tem uma escrita muito direta, ela joga tudo na cara do leitor sem aviso prévio, deixando bem clara a sua pretensão: contar a história de seus personagens e de uma Índia devastada e manchada pelo sangue de inocentes, da discriminação dos dalits, da desvalorização da cultura local. Tudo num fôlego só.

E esse estilo de narrativa pode causar um certo estranhamento. E foi por isso que no começo tive muita dificuldade de entender a história e o contexto político em que se passa. Mas isso se deve também a minha completa ignorância a respeito dessa região, dos costumes, da cultura, etc. Eu tive que parar a leitura diversas vezes para pesquisar sobre esse cenário e sobre a própria autora, para começar a entender o que ela estava criticando. E falando assim, parece uma coisa ruim ficar interrompendo a leitura o tempo todo, mas na verdade foi a melhor coisa que fiz e no fim das contas acho que essa foi maneira certa de ler esse livro. Enquanto lia e pesquisava sobre a Arundhati, mais instigada eu ficava pra continuar lendo e mais eu compreendia o que o livro queria me dizer. Foi bastante enriquecedor.

Foi sim bem demorada, mas todo o aprendizado valeu e foi exatamente isso que fez a leitura ser tão significativa. Sei que é normal termos essa pressa pra ler tudo muito rápido, mas no caso desse livro, devorá-lo em dois ou três dias vai fazer muita coisa importante passar despercebida e a experiência será insatisfatória, principalmente se não tiver conhecimento prévio a respeito do contexto político e social da Índia.

Leia-o devagar, saboreando mesmo. Eu garanto que será uma experiência incrível.

Onde Comprar:
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ISBN-13: 9788535929324 | ISBN-10: 8535929320 | Ano: 2017 | Páginas: 496 | Editora: Companhia das Letras

Suzanna Arundhati Roy, conhecida como Arundhati Roy, é uma escritora, novelista e ativista anti-globalização indiana, também envolvida em causas ambientais e de direitos humanos. Estudou arquitetura e trabalhou em cinema como designer de produção. Escreveu os roteiros de dois filmes. Seu primeiro livro O deus das pequenas coisas (The God of Small Things) ganhou o Booker Prize em 1997 e foi editado em 36 países. Venceu também o Lannan Cultural Freedom Prize em 2002.

{ Esse livro foi enviado pela editora Companhia das Letras para resenha no blog. Em compromisso com o leitor, sempre informamos toda forma de publicidade realizada pelo blog 

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