“Hitler, agora você é um herói!”
O absurdo da frase chega a ser nauseante, não é mesmo? Mas imaginem se Hitler voltasse.
Imaginaram?
Qual seria o curso da história? Ela se repetiria? Algo mudaria? Seus ideais antissemitas e racistas morreram com ele?
Não, eu não estou fazendo conjecturas insanas. Todas essas questões são levantadas ou insinuadas em Ele Está de Volta, sátira adaptada do livro de mesmo nome, escrito por Timur Vermes.
De acordo com a premissa, após 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler acorda no local do seu antigo Bunker, na Alemanha de hoje, confuso por não escutar os ruídos da guerra e sim os da modernidade. Aturdido e contrariado por ninguém se reportar a ele como o Führer e com a famosa saudação. Logo que sai às ruas é visto pelas pessoas como um comediante assustadoramente parecido com o “original”. Acaba chamando muita atenção pela “semelhança” e é descoberto por uma equipe de TV. A Partir daí, sua popularidade cresce e ele ganha um programa no YouTube virando um fenômeno viral.
A primeira coisa que chama atenção é a mudança no formato no decorrer das cenas, onde é possível perceber uma variação que vai de documentário à vídeos de vlogs, utilizando também imagens da televisão e de desenho animado.
Mas o que de fato interessa é que, assim como o livro, o filme abre discussões sobre até onde se pode fazer humor com esse tipo de assunto, polemizando e satirizando tudo, inclusive o próprio livro.
Eu confesso que inicialmente desenvolvi aversão à ideia bizarra que a adaptação traz. A sátira por definição é uma ironia, e ao contrário do que se pensa não é uma técnica tão simples de ser compreendida, pois tem inúmeras formas de interpretação. Li o livro a mais ou menos um ano atrás mas nunca cheguei a concluir, só o fiz a poucos dias, para poder elaborar um comparativo com o filme.
E como esse tipo de técnica assume diversas vertentes de interpretação, a experiencia é única para cada pessoa, no meu caso em alguns aspectos as questões abordadas e as mensagens sublimiares foram postas de forma sensata, porém em outros achei que o filme “romantizou” um pouco demais a imagem do Hitler, como se ele fosse o “herói” que veio limpar toda a bagunça.
Mas considerando apenas o enredo em si, a proposta do livro/filme é encabeçar uma crítica relevante ao atual quadro político da Europa, pegando como exemplo a crise dos refugiados, e ainda fazer uma análise sobre esse novo mundo tecnológico, onde a exposição gratuita na internet é banalizada e a qualidade dos conteúdos produzidos pela TV. Além disso retrata assuntos como misoginia, racismo e, é claro, antissemitismo.
O que se pode perceber, sobretudo da ideia central, é que a ideologia antissemita e racista não acabou junto com a guerra, tampouco morreu com ele. Deixando bem claro que seria pura inocência pensar o contrário, mesmo após 70 anos.
Em um diálogo, ao ser apontado como um monstro, Hitler se contrapõe ao discurso indagando o porquê da sua popularidade e o porquê as pessoas o seguem, ou simpatizam com seus ideias afirmando que sempre terá alguém como ele, que ele sempre fará parte de todos. Ou seja, de alguma forma a semente ainda é cultivada.
Trazendo esse contexto para a nossa realidade aqui no Brasil, sem entrar em polemicas políticas, é possível enxergar um caso específico de populismo exagerado e completamente insano, onde se aplicam os mesmos questionamentos.
A experiência foi um tanto quanto agridoce, mas se deixar de lado toda a bizarrice do contexto e levar em consideração a crítica mordaz, o material vale a pena ser conferido.
Direção: David Wnendt
Elenco: Oliver Masucci, Christoph Maria Herbst, Fabian Busch mais
Gênero: Comédia
Nacionalidade: Alemanha
Distribuidor: Netflix
Tipo de filme: longa-metragem
Produção: Lars Dittrich Christopher Müller
Argumento: Mizzi Meyer David Wnendt
Baseado em: Ele Está de Volta de Timur Vermes
Género: Comédia
Música: Enis Rotthoff
Cinematografia: Hanno Lentz
Companhia(s) produtora(s): Mythos
Lançamento: Alemanha 8 de outubro de 2015, Brasil 9 de abril de 2016 Idioma Alemão Receita 19 609 361 €
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