Autor: Leonel Caldela
Jambô editora
I.S.B.N.: 978858913447-7
Edição: 1
Ano: 2010
Num. Páginas: 416
Sinopse: Haverá dois soldados. Um de Deus e um do diabo.
Foi o que disse a segunda profecia. A primeira falou da corrupção da Voz de Urag, da época em que a líder da Igreja trairia seu povo e faria a guerra contra os cardeais. As profecias avisaram sobre a Voz de Urag, a Voz de Deus, tornada maligna, uma serva do inferno. O surgimento de dois heróis para derrubá-la. E a queda de um deles, revelado como o Soldado do Diabo.
Mas e se for tudo mentira?
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A inovação começa no narrador, um personagem chamado Iago que narra e participa da história. Ele mesmo admite não ter presenciado todas as cenas, construiu o importante a partir dos resultados e inventou o resto na cara dura! Em certos trechos ele ainda muda o que aconteceu só pra história ficar mais bonita, depois admite que mentiu e conta a coisa certa, muito legal, vejam:
“Outra mentira: não era um cavalo. É claro que não haveria um cavalo num lugar miserável como aquele.
Era uma mula.
Mas um cavalo soa melhor. ”
Em seguida o mundo, criado pelo autor, tem grande semelhança com a nossa era medieval, e diferente dos outros romances de Caldela (A Trilogia da Tormenta e O Código Élfico), tem poucos elementos de fantasia (poucos, não ausentes), mostra uma era crua, cheia de violência, sujeira e pessoas ignorantes. Marcada pela hegemonia da igreja que restringe o pensamento, condenando todos os hereges à fogueira. Uma pessoa normal diria que é um livro mais maduro, no meu caso, digo que não senti falta da fantasia, mantém o nível Caldela, sempre explorando situações interessantes. Entretanto o cenário é de uma época medieval cruel, não existem grandes romances, se concentra principalmente nas disputas ideológicas, então as meninas podem se decepcionar.
A história é composta por tragédia, humor, guerra, heroísmo, e sempre permeada pelo embate entre fé e ciência, o fanatismo, como arma para controlar as pessoas, e o conhecimento, que liberta. A crítica à religião é forte, e isso me incomodou um pouco, sou cristão de mente aberta (vamos dizer assim), inclusive, meu personagem favorito foi o Ganimedes, um general da igreja que apesar do estudo, permanece com fé inabalável. Não é um livro que daria de presente para alguém religioso, acho que a pessoa passaria raiva.
Falando em personagens, também gostei muito do narrador, ele é uma pessoa normal, sem habilidades de combate, não tem um conhecimento impressionante, e toma até algumas atitudes por conduta gregária (todo mundo está fazendo, vou fazer também). O fato de ele ser uma pessoa normal fez com que eu me identificasse, permitindo apreciar bastante a aventura.
Por fim, existe uma crítica velada à mídia, aos meios de comunicação em massa como instrumentos alienadores. Não posso dar spoiler porque estragaria tudo, vou dizer apenas que as reviravoltas foram fantásticas, incluindo o final, achei surpreendente.
As páginas escorreram em poucos dias de leitura suave, não recomendo a religiosos fervorosos e meninas frescolentas, recomendo a todos os amantes de fantasia medieval, acho que não vão se decepcionar.