Depois de um hiatus de mais de 8 meses entre uma temporada e outra – praticamente uma gestação lol – Hannibal voltou com tudo no canal americano pago NBC. Se na estréia da primeira temporada ninguém tinha certeza se um personagem tão cruel e controverso quanto Hannibal Lecter, no cinema vivido pelo icônico Anthony Hopkins, poderia agradar no horário nobre da TV (especialmente por ser vivido por um ator relativamente desconhecido do público americano, Mads Mikkelsen, cuja carreira na Europa, embora brilhante, fora baseada em papéis de mocinhos), o público estava entregue, e foi com muita ansiedade que recebemos Hannibal de volta.
Na temporada anterior: o instável Will Graham, a serviço do FBI, investigava, entre outras coisas, o caso do serial killer Garret Jacob Hobbs. A investigação resultou na morte do assassino, deixando sua filha Abigail órfã e sob os cuidados preocupados tanto de Will quanto do psiquiatra Hannibal Lecter, agora “amigo” e analista de Will. Quando o FBI começa a investigar o trabalho de um imitador de Hobbs (que a gente sabe que é o Hannibal), Abigail é assassinada e todas as pistas acabam invariavelmente sendo direcionadas para Will Graham, que termina a temporada sendo injustamente preso e dado como louco.
Agora: depois dos vídeos que precederam a estréia (fiz até uma análise de um dos trailers nesse post aqui) tínhamos várias certezas – Will continuaria preso, que a psiquiatra de Hannibal sabe mais do que diz, que Jack vai descobrir a verdade eventualmente.
O episódio começa, após uma rápida revisão dos principais acontecimentos da primeira temporada, direto com a maior bomba que os vídeos promocionais prometiam – a briga mano-a-mano entre Hannibal e Jack Crawford. Depois de dois minutos de porrada, facadas e gravatas no pescoço, tela preta: 12 SEMANAS ANTES.
Então, é. Isso provavelmente só deve acontecer lá pelos últimos episódios, se cada episódio equivaler a uma semana.
No tempo presente, Hannibal oferece um de seus famosos jantares a Jack (agora com comida japonesa – vai saber se isso é mesmo peixe!) e diz a ele que quer que o FBI o investigue, mesmo que só pra tirar o peso da consciência. Enquanto isso, no Baltimore Hospital, Will está preso e se recusa a falar com Frederik, o psiquiatra responsável por ele; ao invés disso, exige falar com o Dr. Lecter. Uma vez frente a frente, embora Hannibal tente convencê-lo de que ele é o verdadeiro culpado, Will garante que ele não está mais confuso, e que irá descobrir o que Hannibal fez com ele – e quando o fizer, haverá retaliação.
*pausa para hiperventilar depois dessa cena*. Não somente foi o único momento entre os dois no episódio inteiro, como foi cruelmente bem construído em cima dos diálogos precisos, e do trabalho sempre excelente da dupla de atores principais. É impressionante ver Hugh Dancy e Mads Mikkelsen contracenando porque há um equilíbrio em todos os sentidos quando os dois estão em quadro – Hannibal é tão controlado quanto Will é fora de si, a expressão dele sempre mais cuidadosamente contida que a do outro, e Dancy e Mads construíram e interpretam tão bem seus papéis que não dá pra dar mais atenção a um do que a outro; eles simplesmente se completam, fazem o outro crescer. Isso sem falar na química ridícula que os dois tem contracenando, e não falo isso só no sentido de shipar os personagens (sou dessas, me processem), mas em como os dois combinam e se entrosam. É difícil separar um do outro.
Continuando, um novo caso nos é então apresentado: seis corpos são descobertos no fundo de um rio, de pessoas sem nenhum traço em comum, todos com traços de alguma tentativa falha de conservação. Já que Graham está preso, o Dr Lecter – o “novo Will” – é chamado para servir ao FBI na formação de um perfil do assassino. Em seguida, no consultório de sua psiquiatra, Hannibal assina um consentimento legal para que a médica discuta, com certas reservas, suas consultas com o FBI durante o curso da investigação. E a pergunta que não quer calar é feita: até onde Hannibal pretende chegar com essa história? Ainda que Hannibal afirme que é só até as suspeitas sobre ele cessarem por completo, sua psiquiatra afirma categoricamente que Jack Crawford não sabe do que ele é capaz – e, segundo Hannibal, nem ela. Esse foi positivamente meu diálogo (embora não seja a cena) preferido em todo o episódio, porque diz muito sem dizer quase nada – fica claro que a relação entre Hannibal e sua psiquiatra é muito mais aberta do que ficara implícito até então, e as ameaças são todas encobertas por frases bem educadas. Eu já gostava das cenas entre os dois desde a primeira temporada, por toda a ambiguidade de caráter, e mesmo pela “fragilidade” que Hannibal demonstrava dentro do consultório dela, e nessa temporada, estou mais do que certa de que isso vai se repetir, se não aumentar consideravelmente.
Enquanto o FBI se preocupa com Will Graham e o novo assassino em série, Alana é a única que ainda se preocupa em ajudar Will. Além de tomar conta de todos os seus cachorros (até do Winston, que vive fugindo de volta pra casa), ela resolve, mesmo que estado certa de que Will é culpado, ainda que não se lembre de nada, ajudá-lo a recobrar suas memórias. Ele está certo de que há coisas que sua doença encobriu que podem servir de prova – senão para os outros, que seja pra ele mesmo – de que Hannibal Lecter é de fato o imitador, e que de alguma forma ele não somente incriminou Will, como também o deixou mais doente. Alana resolve, portanto, submetê-lo a um processo de hipnose, que acaba não tendo o resultado esperado; ele alucina, e sua alucinação não tem nenhum significado aparente.
Depois que mais uma pessoa é dada como desaparecida nas mesmas circunstâncias que os mortos encontrados no rio, a investigação se torna mais frenética – se os corpos achados são os descartados, quantos estariam sendo mantidos pelo serial killer? Mas o FBI continua sem pistas, uma vez que as vítimas não tem nada em comum, e Bev sabe que falta um único elemento para avançarem na investigação: o olhar de Will Graham.
O episódio acaba com a primeira investigação não-concluída da série, se não levarmos o caso do imitador em consideração. Pela preview que foi ao ar logo após o episódio, já temos algumas dicas do que vai acontecer: Will será conado à pena de morte, a psiquiatra de Hannibal irá visitá-lo, e, até que Jack descubra a verdade, Hannibal continuará a trabalhar como o “novo Will” ´para o FBI. Mas ainda tem muita coisa pra rolar nos poucos 12 ou 13 episódios que teremos pela frente nessa temporada, e uma porção de surpresas que nenhum promocional nos adiantou até agora – e, pessoalmente, eu mal posso segurar minha ansiedade.
Ponham o vinho pra gelar, e venham de estômago vazio. A temporada está só começando.
POST ESCRITO PELA COLUNISTA LARISSA SIRIANI
Estou muito ansioso para os próximos episódios!
Eu acho, acredito eu, que essa temporada não vai ser tão psicológica quanto a primeira, acho que deve ter mais foco no aspecto da perseguição.
O que mais me agoniava na primeira temporada era ver como abusavam da mente do Will, e aos poucos vendo ele perdendo a percepção do real e de confiaça para com as pessoas ao seu redor. Mas agora nessa temporada ele já recobrou em parte sua lucidez, e ao meu ver ele nem é o personagem principal dessa nova temporada, e sim o Dr. Lecter.
Acho bem interessando desenvolverem esse aspecto obsessivo, mas muito humano, dele com o Will Graham. Parece, ao meu ver, que é como se ele quisesse ser o agente. Não precisar mais usar uma máscara, fingir ser alguém normal, e poder aceitar sua monstruosidade e tentar conviver com ela, assim como Will faz. E meio que os dois acabam por terem seus papéis invertidos, de certa forma…
Pelo que eu estou deduzindo o resultado disso tudo vai ser o Dr. Lecter se safando de tudo que fez mais uma vez, como sempre acaba acontecendo. O que me dá muita angústia, mas é um aspecto bem legal das obras do serial killer, ele sempre consegue escapar por alguma brecha.
E no mais, a produção da série continua fantástica, elenco, trilha sonora, e principalmente a edição e fotografia. O que mais gosto é como conseguem destacar a textura em certos takes. Dá um ar bizarro, e embrulha o estômago, até mais que as cenas mais gores cheias de corpos.
E a minha cisma/reclamação continua a mesma da temporada anterior. O problema do “caso do dia”, que acho que poderia ser apresentado de uma forma mais dinâmica, e assim não roubar tanto tempo do desenvolvimento dos personagens.
E isso é só. Isso que só foi um episódio…
(Desculpem minha falta de dinamismo aqui. Normal eu fazer isso, esses monólogos…)