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[TrolandoD20em20] Conhecendo o Steampunk!

A história da modernidade possui marcos definidores que impactaram a vida do mundo todo. São eventos que não só alteraram o visual das cidades, mas também a forma de pensar das pessoas e suas expectativas do futuro. Nesse contexto, não há evento que mais influenciou no nosso atual modo de viver do que a Revolução Industrial, ou melhor, as revoluções. Sim, porque foram três, cada uma interferindo num período diferente para mudar nossa maneira de pensar. E não só no que diz respeito ao trabalho, moradia ou desenvolvimento industrial, mas também na cultura e na produção artística e de entretenimento; dentre essas, o movimento steampunk se encontra diretamente ligado às Revoluções.

O steampunk nasceu no final dos anos 1980 para o início dos anos 90, logo após o começo da Terceira Revolução Industrial, e sua criação está diretamente ligada a este evento. Para entendermos melhor, voltaremos para o século XVIII, também conhecido como era vitoriana, focando na Inglaterra daquele período. A máquina a vapor dava um novo horizonte à vista de Londres, com a fumaça cortando os céus e o trem movido a carvão partindo a todo instante para invadir o restante da Inglaterra – e da Europa! A primeira geração de trabalhadores que deixaria os campos e transbordaria as fábricas da indústria têxtil sofria na expectativa de estar se sacrificando para construir um novo mundo: um mundo moderno!

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   Como haveria de ser, os escritores de ficção daquela época maravilharam-se com as novas possibilidades narrativas que aqueles eventos lhes apresentavam. O homem e seu poder de criação eram ilimitados, tinha-se a sensação de que toda barreira imposta pela natureza poderia ser quebrada agora com a tecnologia (arcaica). Essa sensação eclodiria quase um século depois, já à beira da Segunda Revolução Industrial, com o que podemos chamar dos primeiros escritores de steampunk; Júlio Verne sendo seu maior expoente (20.000 Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra, Volta ao Mundo em 80 Dias),seguido de  H.G. Wells (Guerra dos Mundos, A Ilha do Dr. Moreau, A Máquina do Tempo). Eles acreditavam num avanço tecnológico, no homem possuindo seu próprio meio de transporte veloz ou aéreo, na ciência moldando as cidades e a sociedade em sua forma de se organizar, mas eram limitados por sua época, pois não sabiam do advento do petróleo, da propulsão do motor elétrico, da era digital. Suas histórias eram pautadas nisso, no futuro de seu passado, e aí temos a definição do steampunk e o motivo pelo qual ele tanto atrai adeptos: é a nostalgia de um futuro que poderia ter existido.

Mas voltemos para as décadas de 80 e 90 dos anos 1900. Como o homem poderia imaginar um futuro alternativo agora que conhecia os carros, os aviões, os apetrechos que tanto facilitam a vida, o telefone, o computador? Concluiríamos que, em algum momento, o ser humano haveria de inventá-los, haveria de modernizar-se. E, no melhor estilo Marvel/DC, o que aconteceria se o homem tivesse tido as ideias que impactaram a Idade Contemporânea, nossa era, e descoberto como fazê-las anos antes, nos tempos de Verne e Wells? Como seria o mundo se as produções da Terceira Revolução Industrial tivessem ocorrido no quando da Primeira Revolução? Aí temos a narrativa steampunk, um gênero da ficção científica que se espalhou dos livros para os filmes, quadrinhos, mangás e animes. Mais recentemente, tornou-se até um estilo de vestimenta e incentivou alguns inventores a tentarem criar tais objetos tecnológicos dentro desta regra.

Planadores de ferro torcido e tecido, jatpacks movidos a pressão do gás, dirigíveis do tamanho de navios com cassinos, exércitos ou vilarejos inteiros dentro de si, computadores de madeira, próteses humanas pneumáticas, trens monumentais, muita coisa movida com pedais, à máquina a vapor, com engrenagens colossais e poluição maior ainda. Estas são composições básicas de uma boa história steampunk. Como naqueles anos, a despreocupação do homem com o meio ambiente, tudo em prol do progresso, é fundamental dentro do enredo. Nausicaa do Vale dos Ventos, criação do mestre do cinema japonês Hayao Miyazaki e produção do Studio Ghibli, é um bom exemplo de como o steampunk se relaciona de forma próxima a nossa realidade e dá a sensação de um futuro que poderia ter acontecido: a dicotomia entre pequenos vilarejos feudais e grandes centros urbanos (que voam apilhados em aviões de aço), do avanço tecnológico com o avanço da natureza, nos fazem refletir seriamente sobre o quão nossa consciência pode desrespeitar as leis naturais em busca do avanço tecnológico.

   Já Steamboy, que do nome até o concept design é uma das criações mais preocupadas em respeitar as “regras” do gênero steampunk, se preocupa em firmar a relação política existente no século XVII e XVIII: a monarquia no poder teórico e os grandes empresários no poder de fato, o trabalho infantil, a preocupação com invenções inovadoras e a briga pelo controle industrial.

Ainda nos animes, Fullmetal Alchemist está entre as mais famosas histórias de steampunk, e adapta vários contextos sociais de uma época já ida da humanidade (os vilarejos feudais, o início do imperialismo, os conflitos religiosos e éticos que esta fase trouxe ao ser humano) através da viagem dos irmãos Elric na tentativa de recuperar seus corpos, substituídos por automails (ou o que seriam as próteses mecânicas se tivessem sido inventadas numa época sem a mesma medicina/tecnologia).

Nos quadrinhos, a obra prima do movimento steampunk é A Liga Extraordinária, do polêmico Alan Moore. Magistralmente composta como uma história que colocava num mesmo universo toda a literatura de ficção inglesa da era vitoriana, seu palco inglês de uma tecnologia avançada há cento e cinquenta anos atrás o obrigou a inventar máquinas e armas típicas do steampunk mais cobiçado! Ainda na produção de HQ´s americanas, temos os diversos Túneis do Tempo da DC, que colocavam o Batman em eras remotas e se apilhavam de elementos do gênero.

   Muito do cinema live action do gênero steampunk vem das adaptações dos livros de ficção científica do século XIX, como A Máquina do Tempo e O Mundo Perdido. Se Van Helsing se vale do personagem de Bram Stoker para criar um cenário steampunk, é As Loucas Aventuras de James West (do inglês Wild Wild West) que se caracteriza pela história original desta vertente, e uma das primeiras produções televisivas a criar algo que viria a se moldar como o gênero de steampunk. Ainda distorcido, a ideia de um passado avançado é usada no velho oeste americano, no que seria uma mistura de western com ficção científica, num enredo aventuresco e de comédia – nada além de uma salada do que mais fazia sucesso na década de 50 no cinema estadunidense. Apesar da fraqueza no roteiro e na composição, é um marco na exploração da ideia de um futuro para o passado que não existiu.

Sem qualquer ideologia ou regras bem definidas, o steampunk nada mais é que um gênero do entretenimento, ou os elementos que podem compor esta produção. Independente da forma como se apresente, sempre nos atrairá a ideia de como teria sido o mundo se tivéssemos inventado tantas coisas (benéficas ou não) décadas antes do que ocorreram. E nos faz perguntar, o que ainda iremos inventar e não sabemos ainda?

A cada época cabe sua criação, e o papel da ficção sempre será de quebrar essa barreira para que possamos viver, mesmo que por alguns instantes, num mundo onde os limites do tempo não existam!

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