No texto da semana passada, o leitor Marcelo Ribeiro pontuou muito bem que um mestre experiente consegue lidar com situações inusitadas. Outro fator que contribui à capacidade de reação é o conhecimento, quanto mais elementos do mundo forem conhecidos, mais fácil se torna o manejo dos diferentes eventos. Nessa semana será explorado um pouco sobre julgamentos na era medieval. (Ao pessoal do mundo das trevas basta assistir Law & Order).
Com o advento do feudalismo o rei transferiu o poder para os cavaleiros e barões [1], isso gerou grandes variações legislativas entre as regiões. Neste texto será explorada apenas uma possibilidade de julgamento a partir do seguinte exemplo:
O ladino Jack roubou o tesouro de um duque, mas enquanto ele comemorava na taverna, a milícia local cercou o lugar (desde a época do império romano, homens são empregados nas cidades para aumentar a segurança e lidar com criminosos [2]), Jack é preso sob acusação de roubo.
A ciência forense não era bem desenvolvida na idade média, então o testemunho sob juramento era excelente prova, uma única denúncia seria suficiente para que o ladino precisasse se submeter a julgamento. Jack possivelmente esperaria nas masmorras até que o nobre local, nesse caso o duque, decidisse julgar o criminoso.
O julgamento poderia ser tanto em uma sala do castelo (figura acima), quanto em praça pública [3,4]. No livro “O queijo e os vermes” é descrito um julgamento por heresia [5], supondo que o procedimento seja semelhante, o nobre escutaria às testemunhas antes de dar a sentença. Mas lembrem-se, o poder jurídico estava concentrado no nobre, não é um sistema justo, mesmo que as pessoas favorecessem o ladino, o duque ainda poderia enviar Jack para a forca. Em um texto do blog pausa para um café [6], a arbitrariedade dos nobres pode ser percebida nos contos de fadas originais, quem vocês acham que mandou arrancar os olhos das irmãs de cinderela? (Não aguenta pede leite!)
Nesse caso ainda há um agravante, onde está o tesouro? Então independente do que as testemunhas dissessem, o nobre possivelmente iria ordenar que o criminoso fosse interrogado, obviamente através de tortura, prática comum na era medieval [7].
Felizmente o ladino poderia recorrer, existia uma prova judiciária na idade média chamada ordália, nessa a pessoa era submetida a um teste, se obtivesse sucesso significaria que recebeu ajuda divina e por isso deveria ser considerada inocente [8]. Dois exemplos de ordália são: pelo fogo, onde a pessoa teria que segurar um objeto de metal muito quente por um tempo, caso as feridas se curassem em 3 dias, a pessoa era absolvida. O outro exemplo de ordália era pelo combate [1] (sim amantes de jogo dos tronos, existiu), recurso reservado apenas para nobres, onde eles poderiam combater pessoalmente ou indicar um campeão, a vitória era prova de inocência. Mas novamente refórço o poder do nobre local, o duque, nesse caso, poderia simplesmente recusar a ordália.
Por fim, com o tesouro recuperado, as execuções mais comuns eram pela forca ou por decapitação, possivelmente em praça pública.
(Espero que o restante do grupo volte rápido da masmorra!)
Referências
[1] http://www.thefinertimes.com/Middle-Ages/law-in-the-middle-ages.html.Acessado em 13/11/2013.
[2] http://en.wikipedia.org/wiki/Police. Acessado em 13/11/2013.
[3] Série: “Legend of the seeker”.
[4] Livo: Assassin’s Creed Renascença, Oliver Bowden.
[5] Livro: O queijo e os vermes, Carlo Ginzburg.
[6] http://pausaparaumcafe.com.br/top6-historias-reais-por-tras-dos-filmes-da-disney-que-vao-arruinar-a-sua-infancia/. Acessado em 14/11/2013.
[7] http://www.medievalwarfare.info/torture.htm. Acessado em 13/11/2013.
[8] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ord%C3%A1lia. Acessado em 13/11/2013.
Obs.: As referências 3 e 4 são histórias fictícias, citadas apenas como possível inspiração para uma aventura de RPG.
Na minha nova mesa, haverá julgamentos. Ajudou muito cara! Valeu!
Não aguenta? Bebe leite pq a história é pra macho!