Sabe aquele livro que fica ecoando na sua cabeça após a leitura e você tenta mensurar o significado dele e tudo que absorveu durante a leitura?
Foi exatamente assim que me senti ao finalizar As Ondas da Virginia Woolf.
Esse é o sexto romance da autora, onde traz seis personagens imersos em uma espécie de monologo das próprias vidas, apresentando suas inquietações e sensações intimas. A narrativa é caracterizada por não ter um fluxo de tempo controlado. Virginia faz analogia a elementos como a água e a natureza para evidenciar as tensões dos personagens a partir de temas como a homossexualidade, a traição, o adultério, a amizade e o amor.
Os personagens são: Bernard, Neville, Louis, Jinny, Rhoda e Susan. E há também Percival que é o único que não tem falas próprias, é apenas mencionado pelos demais e parece ser uma grande influencia na vida dos seis, funcionando em diversos momentos como peça central na história. Eles se conhecem desde a infância e são bem diferentes entre si, cada um tem uma característica predominante e sempre viva na história e uma perspectiva singular sobre as pequenas e grandes coisas da vida cotidiana, sobretudo deles mesmos.
Parece bem pretensioso da minha parte pegar esse como primeiro contato com a autora, considerando que ela própria afirmou ser sua obra mais complexa. Trata-se de um livro denso que descarrega já de inicio uma enxurrada de emoções sem sobreaviso no leitor, e que tem uma narrativa com ritmo singular e um pouco difícil de acostumar e compreender.
Outra característica dessa obra, é que essas perspectivas são alternadas por vezes em espaços curtos de parágrafos. Ou seja, não existe uma separação, uma alternação em capítulos para cada personagem, elas vem como ondas, como o próprio título sugere, cabendo ao leitor se forçar a adequar nesse curto espaço, cada percepção. E também quase não há diálogos diretos entre um e outro, as cenas são “moldadas” de acordo com pensamentos e sensações particulares deles sobre as coisas, reforçando a Idea de viveram em um monologo.
Isso confunde bastante e demorei para “visualizá-los”, o que fez a leitura parecer de certa forma arrastada e até mesmo enfadonha.
Porém a escrita da Virginia é sensacional. É do tipo que deve ser saboreada e apreciada. Tão poética, tão intensa e tão original que é impossível não se render.
Sei que são adjetivos pouco inovadores, mas são os únicos que de fato, conseguem explicar a grandeza da autora.
“(…)desejo mergulhar; visitar profundezas remotas; exercitar de vez em quando minha prerrogativa de nem sempre agir, mas também explorar; ouvir sons vagos, ancestrais, de ramos estalando, de mamutes; ter indulgencia para com impossíveis desejos de abarcar com os braços do entendimento o mundo inteiro – desejos impossíveis para aqueles que agem.”
A leitura de As Ondas não foi fácil e nem rápida e não aconselho como primeiro contato assim com fiz. Deve-se ler pausadamente, com atenção, dando tempo para absorver tudo que é dito e sentido. É um livro melancólico e complexo, que nos tira da zona de conforto e reafirma a propriedade literária da autora.
ISBN-13: 9788520923566 | ISBN-10: 8520923569 | Ano: 2014 | Páginas: 230 | Editora: Nova Fronteira
Virginia Woolf, estreou na literatura em 1915 com um romance (The Voyage Out) e posteriormente teria realizado uma série de obras notáveis, as quais lhe valeriam o título de “a Proust inglesa”. Faleceu em 1941, tendo cometido suicídio.
Virginia Woolf era filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário.
Em 1912, casou-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T.S. Eliot. Virginia Woolf apresentava crises depressivas. Em 1941, deixou um bilhete para seu marido, Leonard Woolf, e para a irmã, Vanessa. Neste bilhete, ela se despede das pessoas que mais amara na vida, e se mata de forma triunfante.
Baci ;*
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eu li Orlando e adorei a escrita poética refinada da Woolf.
um dia lerei esse e o Ao Farol.
Bem poética mesmo. Quero ler todos os livros dela 🙂
Que bom ler sua experiência décima autora tão sofisticada como Woolf.
Não existe se matar de forma triunfante.
Exatamente, Rebeca.
Nayane, estou lendo este livro agora! Ele me chama.
Neville amava Percival?