Reflexões sobre questões de gênero, androginia, religião, análise do Eu enquanto ser humano. Dá pra acreditar que tudo isso é abordado em um livro escrito em 1928?
Estou falando de “Orlando, uma biografia” da saudosa Virginia Woolf, uma espécie de biografia ficcional, na qual Virginia narra a história de Orlando, jovem nobre Inglês do século XVIII, que ao chegar na idade de 30 anos, em um dia qualquer acorda Mulher. Sim, ele acorda mulher, com corpo e consciência feminina. Bizarro? Talvez, mas essa é uma história pra lá de boa!
Orlando enquanto homem tinha uma vida típica de rapaz rico na sociedade da época, ao acordar como mulher ele vê e entende as dificuldades e limitações das mesmas, reconhecendo as inúmeras diferenças comportamentais entre os gêneros na época.
Daí não é difícil imaginar que a querida Dona Virgínia não perderia a oportunidade de questionar e denunciar os valores cultivados naquela sociedade. E tudo isso de forma irônica e bem humorada.
“Lembrava-se de como, quando era um jovem homem, ela tinha insistido que mulheres deviam ser obediente, castas, perfumadas e lindamente apresentáveis. “Agora, sinto na própria pele o quanto custam esses desejos”. refletiu;”pois as mulheres não são (a julgar pela minha própria e breve experiencia nesse sexo) obedientes, castas, perfumadas e lindamente apresentáveis por natureza. Elas só adquirem essas graças, sem as quais podem gozar de nenhum dos prazeres desta vida, à custa da mais tediosa disciplina.”
Muito embora tenha ocorrido essas grandes mudanças, Orlando levava uma vida ativa e agitada, cheia de aventuras, amores e, claro, também algumas decepções. E além do fato da transformação, um outro ponto que chama atenção do leitor logo de cara é a assincronia da história, pois o tempo para Orlando e para a sociedade é diferente. É sabido que ela (ele) vive seus 37 anos ao longo de 300 anos (WTF??). Parece confuso, eu sei, e por vezes achei que estivesse lendo ou entendo errado, mas na verdade é que acompanhamos 300 anos de história da vida de Orlando.
“(…)Algumas semanas acrescentavam um século à sua idade, outras, não mais que três segundos, no máximo. No final das contas, a tarefa de calcular a duração da vida humana(…)está além da capacidade, pois, assim que dizemos que se conta em eras, somos lembrados de que é mais breve que o tempo que leva uma pétala de rosa para cair no chão.”
Fica muito claro que Orlando está sempre a frente do seu tempo, literalmente, com relação ao resto do mundo. E essa é uma reflexão interessantíssima sobre como avaliamos o tempo a nossa volta, sobre o quanto demoramos para evoluir, amadurecer. E isso de maneira geral, pois quando ela aborda essa questão, ela avalia a humanidade como um todo.
Além de tudo isso que citei, o livro se faz importante por colocar em pauta a discussão sobre Androginia (que é quando uma pessoa apresenta características, traços ou comportamento imprecisos, entre masculino e feminino, ou que tem, notavelmente, características do sexo oposto) e também por ser considerado um precursor e grande exemplo da teoria Queer, que questiona justamente a classificação dos indivíduos em categorias universais: Homem vs. mulher; Hetero vs. Homossexual.
(Não sei qual é a edição que vocês tem, mas nessa minha tem um posfácio que esmiúça esse tema e na internet tem vários textos de apoio sobre essa teoria, caso alguém se interesse em saber mais.)
Já deu pra perceber que esse livro é “fora da caixinha”, não é mesmo?! Até a inspiração que levou a sua criação é considerada transgressora. Virginia Woolf teve um romance com a poetisa Vita Sackville-West. Elas foram amantes por algum tempo e fruto da relação foi essa obra sensacional. Quem tiver essa edição da Autêntica, verá que as ilustrações contidas nela são da própria Vita, e identifica-se muito dela na história, não só pelas fotos, mas nas principais características de Orlando. A paixão pela literatura, mais precisamente pela poesia, é inteiramente por conta dela. A sensualidade, a promiscuidade dela, etc.
Com relação a escrita da Virginia, continuo apaixonada, pois pra mim é puramente poesia. Mas por mais saborosa e gratificante que tenha sido a experiência de leitura, não sou pretensiosa a ponto de dizer que entendi 100% do que foi lido. Assim como As Ondas, que li ano passado, a autora trata muito profundamente o psicológico dos seus personagens, ou seja, são muitas sensações a serem absorvidas. E é claro, como todo clássico, há umas partes maçantes, mas que não chegam nem de longe a diminuir sua relevância. Por isso é um livro que a releitura é necessária.
Considero leitura obrigatória, portanto fica aqui recomendado fortemente.
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ISBN-13: 9788582176283 | ISBN-10: 8582176287 | Ano: 2015 | Páginas: 288 | Editora: Autêntica
Virginia Woolf era filha do editor Leslie Stephen, o qual deu-lhe uma educação esmerada, de forma que a jovem teria frequentado desde cedo o mundo literário. Estreou na literatura em 1915 com um romance (The Voyage Out) e posteriormente teria realizado uma série de obras notáveis, as quais lhe valeriam o título de “a Proust inglesa”. Faleceu em 1941, tendo cometido suicídio.
Baci ;*
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Que edição mais linda. Fico mais pobre só de ver e não poder comprar.