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Mudanças e transições na vida

Algumas vezes eu me pego refletindo sobre as mudanças e transições que passamos na vida. Desde as que vem da própria vontade até aquelas impostas pelo nosso ambiente. Esses tipos de experiências costumam sugar muito de nossa energia psíquica – e física também, caso for mudança de casa – mas geralmente são para melhor. Ou é o que somos levados a acreditar no começo.

Alguns meses atrás, a digníssima dona deste portal e este que vos escreve tiveram um bate papo em live no instagram sobre acessibilidade. Falamos sobre a transição dos livros físicos para e-readers e audiobooks, além da resistência que algumas pessoas ainda tem de fazer isso. Como sou deficiente visual parcial, me foi fácil (pra não dizer forçada) a transição de livros físicos para leituras digitais. Devo admitir que é um pouco triste não ter mais estantes, gavetas, partes do guarda roupa cheias de livros, mas foi uma necessidade e tornou minha vida mais prática e com mais espaço.

Você que acompanha minhas palavras e reflexões mensalmente aqui, sabe que minha visão dos videogames é mais reflexiva do que o normal, então não poderia deixar de trazer essa mídia, porque representa uma dessas resistências a mudanças para mim: continuo comprando mídia física ou invisto completamente na mídia digital? Me lembro que nos já longínquos anos 90, eu tinha caixas de fitas de Master System, meu primeiro videogame. Eventualmente, aquelas bolsinhas porta-cd’s cheias de jogos para PS1 e PS2. Sim, eu admito que não haviam jogos originais nessas bolsinhas. Até mesmo os jogos de computador eu ainda investia em mídias físicas, com os antigos códigos de registro, que garantiam que aquele jogo só rodaria em um computador.

Hoje, no meu PS4, eu tenho apenas dez jogos, dos quais nove são de mídia física. É realmente difícil para mim efetivar as mudanças para as mídias digitais em consoles de videogame por conta do pobre trabalho feito pela indústria de se certificar que jogos velhos continuem facilmente acessíveis e preservados. Hoje em dia, a única forma legal de se jogar algum clássico do PS1 ou do Super Nintendo que você tanto gostava é tendo o console e o jogo funcionando em casa e todos sabemos que nem a pessoa mais organizada e cuidadosa do mundo pode evitar que as coisas envelheçam e parem de funcionar. Logo, caiu nas mãos dos próprios jogadores, que formam o segmento de pirataria dos ROMS e emuladores, de se certificar que todo e qualquer jogo lançado ainda continue acessível. Já passou da hora dessa indústria investir em um tipo de Netflix do passado: paga-se uma mensalidade para cada empresa para acessar TODA sua biblioteca do passado. Dos mais obscuros e cults até os mais aclamados e comentados.

Mas eu não vou desmerecer sua percepção nem a minha, não é apenas por isso. Existe um apego ao material. Do mesmo jeito que é gostoso (ou era, pra mim) abrir um livro novo e sentir aquele cheirinho que nosso cérebro classificou como gostoso, também é gostoso ir a uma loja, seja online ou na sua cidade, comprar o jogo, abrir, colocar no videogame e jogar. Se formos falar de praticidade, as mídias digitais ganham sem esforço nenhum, porque você nem ao menos precisa sair de casa ou esperar com que a encomenda chegue em tantos dias úteis. Com poucos cliques, e com o tempo de download dependendo da sua internet no caso dos jogos, você tem aquela mídia para consumir em suas mãos e sem ocupar espaços na sua casa.

No fim do dia, isso pode mostrar mais nossa idade e resistência a mudança que qualquer grande argumento a favor. Fato é que mudanças são boas, mesmo as que aparentam serem ruins a princípio, é possível tirar lições valiosas. Não me comprometo a vocês fazer essa mudança tão cedo, porque gosto da sensação de ter o jogo, não que uma plataforma digital diga que eu tenho em sua biblioteca. Contudo, eventualmente, talvez as mídias físicas se tornem tens de colecionador caríssimas, daí vem o momento onde se é forçado a mudar, independente de sua escolha.

Nota da Anna:
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