Por volta de 900 antes da era cristã, os fenícios ficaram conhecidos pelo oriente como grandes navegadores, tornando-se comerciantes renomados e expandindo seu território. Além das especiarias e dos escravos, levavam pelo mediterrâneo curiosas histórias. Em algum momento uma nau chegou ao porto com um curioso fato: fora descoberta uma ilha no oceano adiante, que seria chamado de Atlântico, uma terra que brilhava tanto quanto o sol. Nela foram vistos animais fantásticos, aves estupendas e monstros gigantescos. Coexistiam com tais criaturas homens que andavam como feras, todos da cor da brasa. E pela terra que brilhava como o sol e os homens que ardiam como brasas, nomearam-na de Breasil!
Garantindo que várias naus percorreram a costa dessa ilha e que algumas lá pisaram e trouxeram recordações, a lenda de Breasil, uma terra de milagres e maravilhas se espalhou entre os fenícios, orgulhosos por terem sido os descobridores do pequeno arquipélago sagrado. Esses povos se espalharam com o tempo, minguando durante séculos, misturando-se a outros povos. E com eles, suas lendas.
Mais próximos da era cristã, os celtas contavam uma história repassada durante séculos, provavelmente desde que fizeram comércio com os fenícios, sobre um país onde qualquer doença era curada e os alimentos brotavam da terra em abundância; uma verdadeira terra abençoada – em celta “bress” (que viria a se tornar o “bless” inglês). Entre breasil (de brasa) e brazil (abençoada), a etimologia cunhou a lenda da ilha de fogo e milagres.
E o mito perdurou pelos anos, até chegar aos ouvidos de São Brandão no século X. Acompanhado de sessenta monges, o santo irlandês partiu em sua expedição para a mítica ilha conhecida então por Hy Brazil, no que ele considerava uma verdadeira caçada. Conta-se que a terra foi literalmente perseguida por muito tempo; toda vez que a encontravam, ela se escondia entre as névoas e os despistava. Mas São Brandão nunca desistiu de procurá-la, até que finalmente pôs seus pés nela. Já idoso, acreditava não ter mais forças para continuar a viagem em sua embarcação, mas morando na miraculosa ilha, obteve saúde para viver ativo até os 181 anos. Os que voltaram à Irlanda contavam das maravilhas que caminhavam pelo arquipélago que anda pelo Oceano Atlântico, ilha que talvez demore a ser encontrada novamente, agora que se escondera entre as ondas e névoas.
A viagem de São Brandão ficara tão conhecida e se espalhara de tal forma que Hy Brazil fora cartografado nos mapas do mundo durante cinco séculos após seu suposto achado. Sua localização mudava de um cartógrafo para o outro. No entanto, foram os portugueses que se empenharam mais afinco para encontrar tal ilha. Primeiro, acharam-na próximo de seu continente, o arquipélago que viria a ser conhecido por Açores, porém não encontraram lá nada que indicava ser a terra milagrosa. Foi só no ano de 1500 que a primeira embarcação portuguesa atingiu o solo que apresentava as descrições da antiga lenda celta e fenícia. O imenso território do nosso Brasil era creditado como somente uma ilha, sendo inimaginável seu extenso território. Mesmo assim, no pequeno espaço explorado, foi possível averiguar os “humanoides” de pele vermelha, as feras e aves fantásticas e um sol que ardia como em nenhum outro país da Europa. E, apesar de não encontrarem o ouro de Eldorado, quanto mais era explorado, mais o Brasil lhes apresentava surpresas.
É possível imaginar que o nosso país já foi um reino perdido de uma lenda que atiçava a coragem dos mais talentosos exploradores?