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A emancipação da mulher segundo “Jane Eyre” de Charlotte Brontë

Quando se fala de um livro que aborda a emancipação da mulher, a desconstrução de estereótipos e ideologias machistas sobre seu papel e uma heroína com ideais empoderadores. Qual livro vem à sua mente?

Pensou em Jane Eyre, certo?

Se não pensou, corre pra leitura desse livro e vamos discutir um pouquinho como ele, mesmo tendo um pouco mais de um século e meio, nos põe pra pensar em assuntos ainda tão pertinentes. E porquê Jane Eyre é uma obra considerada atemporal?

Pega o café e vamos descobrir!

O livro foi escrito originalmente em 1847 por Charlotte Brontë, mas que na época como era comum, foi publicado sob o pseudônimo de Currer Bell. A obra causou grande impacto na sociedade Vitoriana por sua narrativa em tom autobiográfico ficcional (por vezes com diálogos direto entre o narrador e o leitor), evidenciar a mulher como indivíduo com voz e aspirações próprias.

14137799_1115341825181177_465205796_nMas antes de falarmos sobre os temas que perpetuam a história, precisamos considerar a premissa, que resume-se basicamente ao relato da vida de Jane Eyre, uma menina órfã que vive com sua tia, a sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, e cansada da mesmice, receando estaguinar-se, cresce nela anseios maiores do que o internato lhe proporcionava. Ela então põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como preceptora. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. Lá, ela conhece seu patrão, o sr. Rochester, um homem brusco e sombrio, por quem se apaixona. Mas um grande segredo do passado se interpõe entre eles.

Sim, Jane Eyre também é um livro sobre o amor. Mas que apesar do romance entre duas pessoas socialmente distintas e improváveis de união perante uma sociedade padronizada, a obra não se enquadra no clichê enfadonho, pois ao mesmo tempo que nos envolve numa história de amor intensa, porém ambígua, Brontë rompe os estereótipos dos romances “mocinha pobre, mocinho rico”.

O ponto alto desse livro são os conceitos que ele traz sobre ideologias machistas que resignam a mulher no papel de esposa e mãe. E é exatamente essa quebra de paradigmas que o diferencia dos outros do gênero. Aqui, Charlotte Brontë usa a voz feminina como exemplo de resiliência, mostrando que suas aspirações podem incluir o matrimônio e a maternidade ou não na suas vidas. Que a mulher pode escolher o que quiser.

“Eu não sou um pássaro; e nenhuma rede me prende; eu sou um ser humano livre com uma vontade independente.”

Agora imaginem isso impresso em um livro de mais de 700 páginas, lá no XIX. Tentem propagar o pensamento e remeter à sociedade daquela época. Imaginem o choque que foi! Eu já tinha citado-o no post sobre clássicos empoderadores, indicando que se tratava de uma obra com abordagem atemporal.

A professora Sandra Regina Goulart Almeida em seu texto de introdução fala exatamente isso, de como foi a reação de espanto e indignação dos leitores daquela época e como Brontë foi considerada transgressora ao usar seu discurso para questionar os valores da Era Vitoriana.

Jane Eyre é uma heroína moderna, que se destaca não só pela independência, mas pela fé que tem em si mesma, que apesar da intensidade do seu amor, não se sujeita à uma relação capaz de destoar seus princípios. E fica claro para o leitor o quão profunda é a força de seu caráter.

É certo afirmar que uma vez que se lê esse livro o apego é iminente, pois não apenas se lê Jane Eyre, se absorve. E mesmo que para alguns a experiência não seja assim tão profunda, fica pelo menos a relevância do conhecimento de uma obra que proporciona ao leitor enxergar o paralelo entre o que era imposto à mulher vitoriana e o que ela realmente queria.

“É um pensamento estreito dos seres mais privilegiados do sexo masculino dizer que as mulheres precisam ficar isoladas do mundo para fazer pudins e cerzir meias, tocar piano e bordar bolsas. É fora de propósito condená-las, ou rir delas, se elas desejam fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou que fosse necessário para pessoas do seu sexo.”

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