Como uma pessoa se torna racista,ou sexista?
Já nascemos com uma predisposição para isso, ou a adquirimos a partir do exemplo?
Qual é o papel da Literatura no combate à essas práticas preconceituosas?
“A origem dos Outros”, Toni Morrison, aclamada escritora e ganhadora do Nobel de Literatura, nos propõe reflexões acerca dessas questões, analisando autores como Harriet Beecher Stowe, Ernest Hemingway, William Faulkner, entre outros, a fim de que tenhamos um entendimento melhor de como os padrões raciais são inseridos nas narrativas.
O livro é na verdade um compilado de discursos que a autora ministrou em Harvard, em meados de 2016. Nesses discursos ela falava sobre a “literatura do pertencimento”, com ênfase no recorte racial (norte-americano) e sobre como se deu a criação do “outro”, a partir de uma ótica de quem “não se encaixa sob o guarda-chuva da sociedade”, bem como definiu Ta-Nehisi Coates no prefácio dessa edição.
E se o racismo é uma prática repassada por meio de exemplos prosaicos, como então a literatura, como uma forma de expressão da realidade, pode ser crucial para a atribuição de novas perspectivas.
As narrativas consideradas clássicas e universais são fundamentalmente branca, os ensaios do livro vão debater sobre a romantização da escravidão, sendo que como é de conhecimento geral (ou pelo menos deveria ser) escravizar pessoas é um ato desumano, porém ocorreu uma evidente falta de julgamento moral (que ocorre ainda hoje infelizmente) capaz viabilizar esse sistema por anos, e como isso aconteceu?
Como definiu Morrison: “uma das maneiras de que as nações dispunham para tornar palatável o caráter degradante da escravidão era a força bruta; outra é a romantização.”
A autora nos mostra que buscamos sempre nos categorizar, levando em consideração a cor da pele, a classe social, o gênero, etc. Essa “outremização” está fundamentada na nossa necessidade de nos encaixarmos. E “um dos objetos do racismo científico é identificar um forasteiro de modo a definir a si mesmo.”
A partir disso se aprofunda um pouco mais em como é ser ou tornar-se estrangeiro, qual a natureza do conforto proporcionado pela Outremização, e como isso está ligado ao poder, seja social, psicológico ou econômico.
Ela então continua falando sobre o fetiche da cor usado nas narrativas, como são descritos os personagens negros, fazendo um comparativo em relação aos personagens brancos. E o ensaio seguinte fala justamente das formas de narrar o outro, nos fazendo pensar sobre como enxergamos os personagens nas narrativas, como os julgamos,e como a cor da pele é determinante para todas essas conclusões.
O livro termina com o ensaio “o lar do estrangeiro”, fazendo uma breve contextualização histórica, de como houve uma grande movimentação das massas na segunda metade do século XX e XXI, e como isso ameaça o conceito de “lar”. Repensando a ideia de Globalização, comparando como foi disseminada anos antes e como ela está sendo praticada agora, sempre tomando como exemplo grandes obras literárias e alguns de seus livros.
Foi a primeira vez que entrei em contato com os escritos de Toni Morrison, e com “A origem dos Outros” além de refletir sobre racismo e literatura, foi possível entender um pouco o processo de criação dos livros da autora, suas motivações para os enredos e personagens, e agora mais que nunca quero ler seus romances.
É um livro atual e importante. Recomendo!
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Título original: THE ORIGIN OF OTHERS | Tradução: Fernanda Abreu | Nunes Páginas: 152 | Lançamento: 29/10/2019 | ISBN: 9788535932850 | Editora : Companhia das Letras
TONI MORRISON: Nasceu em 1931, em Ohio, nos Estados Unidos. Formada em letras pela Howard University, estreou como romancista em 1970, com O olho mais azul. Em 1975, foi indicada para o National Book Award com Sula (1973), e dois anos depois venceu o National Book Critics Circle com Song of Solomon (1975). Amada (1987) lhe valeu o prêmio Pulitzer. Foi a primeira escritora negra a receber o prêmio Nobel de literatura, em 1993. Aposentou-se em 2006 como professora de humanidades na Universidade de Princeton.
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